Conselhos para o Peregrino da Senda

A exposição dos tópicos a seguir, pretende ser breve e sucinta,  trata-se de uma livre reflexão a respeito de alguns temas que considero  fundamentais para todos os que decidiram trilhar a via da Reintegração, através da Irmandade dos Filósofos Desconhecidos.

  1. Qual é a mentalidade adequada aos que se aproximam das portas da Irmandade dos Filósofos Desconhecidos?

Uma mente livre da necessidade de ter certezas, aberta a estudos críticos e reflexivos e o respeito irrestrito a todo e qualquer aspecto da diversidade humana. Devemos ter em mente que a Iniciação é um acontecimento que frutifica na pura e profunda liberdade do Espírito, algo que deve ser cultivado por todos aqueles que almejam suas alturas.

Sendo assim, como poderá a Iniciação se efetivar em terrenos onde imperam o preconceito, o fanatismo, o dogmatismo, o sectarismo e a segregação humana? A Sabedoria Divina não consegue habitar as caixas fechadas e limitadas de nossas visões pré-concebidas e cheias de melindres, terreno predileto da ignorância. Os preconceitos tornam rígidos e inflexíveis a mente e o coração para a recepção dos libertadores influxos do Divino.

Somos uma Irmandade que busca cultivar o anseio dos livres pensadores, onde a liberdade no pensar e no discernir funciona como bússola para o nosso caminhar.

2. Além disso, o que mais deve ser evitado?

Acredito ser importante evitar conclusões apressadas e aprender a reconhecer a realidade imponderável do mistério. É crucial que um peregrino do caminho iniciático aprenda a sustentar a dúvida, pois isso pode livrá-lo de fantasias que enaltecem e ludibriam o ego. A boa dúvida é aquela que nos faz lembrar de nossa natureza humana, sempre sujeita a erros e enganos. Um iniciado deve ter os dois pés bem firmes no chão e a coragem de um olhar sincero diante da própria sombra, isso o protege de cair nas teias nefastas do auto engano.

Outro perigo a ser evitado, é aquilo que podemos chamar de “síndrome do iluminado cheio de sabedoria”, que ocorre quando a pessoa se sente mais pura, iluminada e santa, manifestando certo desdém e olhar de superioridade em relação aos outros. Essa “síndrome” faz o indivíduo cair no engano de se achar especial apenas por fazer parte de uma ordem iniciática, virando as costas para o tortuoso trabalho que deve fazer em seu próprio ego, preferindo vestir-se de uma máscara ilusória que só dificultará seu caminho, haja vista que terá que reprimir a si mesmo em prol do personagem que o alivia de um confronto direto, com os porões sombrios de sua própria alma. Além de atrasar ainda mais seu processo iniciático, acabará desenvolvendo, no mínimo, uma séria patologia psíquica.

Outro hábito que considero importante ficarmos atentos, diz respeito a erudição vazia, que passa a ser um meio de autoafirmação a serviço do nosso próprio ego. Devemos estar sempre atentos a isso, pois é muito fácil nos escondermos atrás dos livros para evitarmos um processo extremamente profundo e difícil como o caminho da Iniciação. 

Existe uma forte tendência de a erudição funcionar como um depósito de nossas inseguranças e frustrações mais íntimas, nos fazendo crer que somos grandes iniciados por termos lido muito, tirando a iniciação do campo da experiência viva e transformando-a em algo puramente acadêmico e superficial.

Esse é um grande obstáculo para a Tradição Esotérica Ocidental, pois a leitura é parte integrante e essencial do cotidiano de todos aqueles que se decidiram por esse caminho, sendo assim, o que fazer? Como devemos proceder para que nosso afã por boas leituras, sutilmente, não nos tire da Senda? É crucial que toda a nossa erudição esteja a serviço dos valores da Grande Obra, só dessa maneira poderemos colher frutos verdadeiramente iniciáticos e espirituais de cada leitura, e isso, meus irmãos e irmãs, é um árduo exercício.

3. Qualidades a serem cultivadas:

 Disciplina e cadência nos estudos e práticas, que devem sempre andar de mãos dadas. Vale ressaltar que, existe uma grande diferença entre disciplina e obsessão, a primeira é ordeira e equilibrada, a segunda pode ser fanática e contraprodutiva. Vivemos em um plano onde as dualidades imperam, não é sábio viver de extremos, sobretudo quando o assunto é a via iniciática, a disciplina nos ajuda a encontrar a justa forma.

Outra qualidade muito importante é ter um coração aberto ao caminho, fazer-se como o húmus da terra para que os novos ensinamentos   fertilizem nossa alma não é tarefa fácil, mas as recompensas disso podem se mostrar maravilhosas. A simplicidade de um coração aberto pode nos surpreender com entendimentos profundos e repletos de potencial iniciático.

Finalizo com algo que considero muitíssimo importante para um desenvolvimento real e salutar em nossa irmandade, o cultivo da relação iniciador e iniciado, poucos atinam para importância e sacralidade desse vínculo, perdendo tempo endeusando seu Iniciador ou esquecendo de sua importância, quando na verdade o que é sagrado e cheio de potencial instrutivo, é o vínculo, que por ter sido magicamente estabelecido, pode possuir um misterioso potencial de auxílio. Iniciadores são seres humanos falhos, sujeitos a erros e enganos como qualquer outra pessoa, mas o vínculo estabelecido carrega o peso da Tradição, e aí está o seu potencial transformador, não em outro lugar.

   Que todas essas reflexões possam servir para a construção de uma boa base, que sendo sólida e bem estabelecida em nossa mente e fazendo morada em nossos corações, poderá nos sustentar por muito tempo no caminho, só ela pode manter certa faísca de entusiasmo durante os percalços inerentes à Via da Reintegração. Desejo sinceramente que todos tenham um ano repleto de genuínas realizações espirituais e iniciáticas.

Fraternalmente,

Sâr Encausse


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