O martinismo

O que vem a ser, propriamente, o Martinismo?

De um modo muito sintético e despretensioso, podemos definir a Ordem Martinista, também conhecida como “Sociedade dos Filósofos Desconhecidos”, como um corpo iniciático de cunho hermético fundado no final do século XIX, em Paris, pelo médico Gerard Encausse, mais conhecido no meio ocultista por Papus.

Detentor de uma linhagem iniciática que remontava aos círculos místicos criados pelo Marquês Louis-Claude de Saint-Martin, grande teósofo e místico do século XVIII, e associado a Pierre Augustin Chaboseau, possuidor do mesmo legado tradicional, mas por outra via sucessória, Papus fundou uma ordem que, a par de estudar a doutrina e carregar o legado iniciático de Louis-Claude de Saint-Martin, também conhecido como o Filósofo Desconhecido, representou um papel único e fundamental no renascimento ocultista europeu, mais particularmente francês, que já fora iniciado, alguns anos antes, por Eliphas Levi (Alphonse Louis Constant).

Em poucos anos, dezenas de lojas martinistas espalharam-se pela Europa e pelas Américas, difundindo o trivium hermeticum até hoje componente do curriculum martinista: a astrologia, a alquimia e a teurgia. Isso, sem falar nos estudos tradicionais de religiões comparadas, mitologia clássica, cabala, numerologia, angelologia e outras tantas frentes das assim chamadas ciências ocultas.

Mas qual seria a origem do legado místico de Louis-Claude de Saint-Martin?

Acreditamos ser bastante informar, nesta apresentação meramente introdutória, que o sistema iniciático do Filósofo Desconhecido conta com duas fontes distintas: as operações teúrgicas, vale dizer, de Alta Magia cerimonial, preconizadas pelo seu mestre, Dom Martinez de Pasqually, criador do corpo maçônico conhecido como “Ordem dos Cavaleiros Elus-Cohen do Universo”, e a refinada doutrina mística do teósofo alemão Jacob Boehme, chamado de “Príncipe dos Filósofos Divinos”. Melhor explicando, descontente com as complicadíssimas operações teúrgicas ensinadas por seu mestre, Saint-Martin optou por uma via mística de caráter interno, conhecida por Via Cardíaca, fortemente influenciada pela obra de Boehme.

Outro dos alunos de Pasqually, o comerciante e maçom Jean-Baptiste Willermoz, após o falecimento de seu mestre, optou por organizar as doutrinas do martinezismo no seio da maçonaria regular, dando origem ao Rito Escocês Retificado.

Em sendo assim, podemos dizer, sem receio de erro, que a “Sociedade dos Filósofos Desconhecidos” ou “Ordem Martinista de Papus”, além de se traduzir numa escola autêntica e tradicional da Via Cardíaca, conta com elementos da Via Operativa de Pasqually, encontrando-se estruturada em rituais profundamente simbólicos inspirados em Willermoz, muito embora não seja um rito maçônico e nem pretenda sê-lo.

A filiação à Ordem Martinista é buscada, sobretudo, pela instrução que leva bastante longe o estudante sincero e que compreende o estudo aprofundado das ciências simbólicas e herméticas.

A Ordem Martinista compreende três graus: Associado, Iniciado e Superior Desconhecido (S.I.), conferidos de acordo com rituais que procuram dar a quem os recebe uma ajuda poderosa.

O Martinismo é uma cavalaria, ou por outra, é uma tendência ou corrente cavalheiresca que persegue o aperfeiçoamento individual e coletivo. É necessário, portanto, que o Martinismo, em todas as terras, esteja formado por servidores dedicados e sucessores dos verdadeiros Mestres dessa corrente iniciática, os Superiores Desconhecidos, elos inquebrantáveis da nossa cadeia iniciática.