O Pantáculo Martinista – Parte 1

A compreensão do Pantáculo Martinista ocorre quando buscamos sintetizar os diversos aspectos da Doutrina Martinista nesse misterioso símbolo. Ele inclui aspectos de numerologia, geometria sagrada, simbolismo tradicional, doutrina da reintegração dos seres de Pasqually, ou seja, de diversos aspectos da Tradição Esotérica Ocidental sob a ótica do Martinismo.

Daremos início, de tempos em tempos, a alguns textos que espero auxiliem os irmãos, as irmãs e a todos nós que ainda nos consideramos discípulos dos Mestres do Passado, a fim de compreendermos e internalizarmos diversos aspectos da Doutrina Martinista. Guiaremos esses estudos através do profundo simbolismo do Pantáculo Martinista, utilizando ensinamentos dos Mestres do Passado e de reflexões pessoais baseadas na síntese do conhecimento e da meditação sobre esse símbolo.

Para dar início a esse estudo, precisamos refletir sobre as “várias parte de um único símbolo”, compreender que tudo aquilo que existe é variado e aparentemente múltiplo. Mas essa multiplicidade existe devido à nossa atual condição, mergulhados num mar de dualidade onde tudo é oposto: o dia e a noite, bem e o mal, a vida e a morte, o outro e nós, o Salvador e o diabo, a Criação e o Criador… portanto, o Pantáculo é um símbolo único, que exprime múltiplos conceitos, levando-nos a significados cada vez mais profundos. E, caro leitor, não deixe que essa maneira Martinista de se referir ao significado esotérico dos números o desanime ou crie um bloqueio mental.

Não chamarei a numerologia, a aritmosofia, o significado do Pantáculo ou a doutrina da Queda e da Reintegração de “difíceis”, pois isso criaria um bloqueio no aprendizado. Podemos defini-la como abstrata, pois as realidades transcendentes, a princípio, na nossa mente e na nossa vivência, são assim.  Mas o abstrato se torna compreensível e revela-se real a cada meditação,  contemplação e reflexão que realizamos, que é o treinamento da mente para esse conhecimento. Dessa maneira, é com a mente aberta e disposição para aprendermos algo novo que podemos, com dedicação e esforço, nos guiarmos pelos passos dos Mestres do Passado e conhecermos a Tradição.

A numerologia é exposta de variadas maneiras na Tradição Martinista e, se formos atentos, perceberemos o Mistério dos Números em praticamente, todos os aspectos do Martinismo – vestimentas, idade dos Graus, horas de inicio e término dos rituais, Altar das Luminárias, número de Oficiais etc.

De nada adianta aprendermos os rituais e o seus simbolismos, se sinceramente não expandirmos a nossa consciência e vivenciarmos esses mistérios. O conhecimento pode se tornar vazio se não for transformador.

Por exemplo, podemos nos aprofundar nas mais diversas literaturas e aprendermos sobre o Ternário, o número que cerca todo o Grau de Associado – e, arrisco dizer, toda a Ordem Martinista e todas as suas representações e teorias. Entretanto, se não formos capazes de perceber a Unidade que existe no centro do Ternário e, de fato, vivenciarmos isso, de quê terá adiantado aprendermos toda complexidade teórica da multiplicidade da Unidade? Da Unidade que gerou os opostos? Do Caminho Central entre a aparente dualidade da existência ou o mistério da Trindade nas Religiões? Se formos pessoas rígidas, inflexíveis e intolerantes conosco mesmos, com os outros e com outras culturas, qual o significado de tanto conhecimento se não pudermos vivê-lo?

Afinal, a Tradição Martinista representada pela Irmandade dos Filósofos Desconhecidos preza pelos dois caminhos: a percepção inteligente daquilo que é oculto, o estudo, as práticas esotéricas e as reflexões, bem como a vivência que desenvolvemos com os nossos estudos.

E, nesse ponto, o caminho é único e solitário. Ninguém além de nossa consciência pode ser o nosso juiz.

Ao lermos, aprendemos com a experiência do outro. Mas quando vivenciamos e percebemos a realidade em nós mesmos e ao nosso redor, aprendemos através da experiência. Utilizamos dos ensinamentos da Tradição, daqueles que vieram antes de nós, para caminharmos com os seus ensinamentos e seguirmos um caminho bem guiado e seguro.

A palavra pantáculo vem do grego panta, que significa “o todo” ou “tudo”, e, segundo Adolphe Desbarolles (1801 – 1886), a palavra latina pantaculum significa “aquilo que contém tudo”. Segundo Papus, é o “diagrama do todo, resumindo, num único símbolo, uma riqueza de significados”.

Seria muito fácil dizer e decorar algo como: “O Pantáculo Martinista é o símbolo da Criação Universal”, “da Queda e da Reintegração”, “de toda a doutrina Martinista”… Todas essas afirmativas estaão corretas, mas quanto disso de fato é o fruto das nossas reflexões, compreensão, sentimento e vivência?

A maneira mais fiel que encontrei para interpretar teoricamente um símbolo é através do axioma alquímico solve et coagula, pois fragmentamos um único símbolo em diversas partes e, após suas tradicionais interpretações, sintetizamos o conhecimento.

“Dissolvendo” o Pantáculo, chegaremos a diferentes símbolos: o círculo traçando os limites do símbolo, o hexágono pontilhado, a cruz cujo braço é formado pelo raio da circunferência, e o hexagrama formado por dois triângulos. Temos, portanto, um único símbolo que se fragmenta em outros quatro. Quatro símbolos que formam um Pantáculo. 

Chegamos, portanto, ao mistério inicial, que talvez seja também o mistério final do Pantáculo: o Quaternário é a manifestação perfeita da Unidade. Contudo, adentraremos esse tema numa próxima oportunidade.

Por enquanto, reflita: esse Mistério do Quatro que é Um remete-lhe a alguma outra coisa?

Fraternalmente,

Sâr Abamon


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