FONTE: Independent and Rectified Martinist Rite or Order of Unknown Philosophers – Compiled by A.E. Waite – Septentrione Books – New Edition – 2013
TRADUÇÃO: Sâr John Yarker S::I::I::
O Rito Martinista Independente e Retificado de Waite é publicado aqui pela primeira vez. Ele é oferecido como uma curiosidade e até talvez como uma antiguidade porque o Rito não é trabalhado desde 1924. No entanto, a publicação pode ser justificada porque revela algo da amplitude e complexidade de seu pensamento sobre o aspecto cerimonial do Martinismo no início da década de 1920. Ele foi um produto de sua longa associação com o fenômeno Martinista na França de várias maneiras e seu desejo de estabelecer uma variação retificada e independente de Martinismo, tendo se distanciado um pouco dos exemplos mostrados por Papus e seus ‘discípulos’ em Paris.
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A longa associação de A.E. Waite com o Martinismo está bem documentada. Começou em 1877 com as suas primeiras explorações literárias dos próprios escritos de San Martin e ele ficou claramente cativado pelas profundas intuições espirituais que detectou nestes escritos. A sua crítica condenação em 1896 das atividades editoriais do notório e “Leo Taxil” (pseudônimo) levou-o a uma estreita associação, pelo menos até 1903, com os Martinistas franceses liderados por Papus (Gérard Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916), especialmente com a sua simpática crítica de O Tarô dos Boêmios (1896). Eventualmente, três anos após o primeiro dos seus conhecidos “flertes” iniciais, mas truncados com a Ordem Hermética da Aurora Dourada (1891-1893) e no início de 1897, ele foi iniciado em uma forma de Martinismo pelo onipresente e eclético John Yarker (1833-1913), que aparentemente tinha obtido a admissão no Martinismo por parte de um ‘Barão Surdi’ em Praga. Yarker deu a Waite os quatro livros de rituais manuscritos, individualmente, e depois os copiou em rápida sequência.
A ideia que Yarker compartilhou com Waite foi a de que Waite iria formar um ramo não-maçônico da Ordem. Yarker sugeriu que ele poderia obter uma carta para fazê-lo a partir de “Papus” em Paris. Em 1899, foi admitido no grau Martinista de Superior Desconhecido por ‘Papus’ e imediatamente foi feito, também por ele, Iniciador Livre.
No entanto, em dezembro de 1902, a exploração do mundo esotérico por Waite tinha-se tornado muito mais elaborada e até “dramática” Ele concebeu a criação de um Conselho Secreto de Ritos que, trabalhando deliberadamente na quase completa obscuridade, seria concebido para preservar o que ele considerava ser “a Tradição Secreta”, que ele definiu como “o conhecimento imemorial sobre o caminho de regresso do Homem de onde ele veio por um método de vida interior”. Aqueles que preservaram essa tradição perpetuaram-na em segredo por meio de Mistérios instituídos e de literatura enigmática”. Estes ritos testemunhavam invariavelmente:
(a) A natureza aeônica da perda sofrida pelo Homem em sua queda primitiva;
(b) A garantia da restauração final do Homem ao estado original de graça;
(c) A eterna natureza da existência da Tradição em algum lugar no tempo e no mundo, embora essa existência esteja profundamente escondida;
(d) A substancial presença da “Tradição” sob “véus” rituais que estão livremente à disposição de todos os buscadores diligentes e habilidosos.
Haveria uma sequência de onze ordens, cada uma das quais revelaria parte de todo o mistério ao diligente buscador da sabedoria esotérica e mística e cada uma delas seria dedicada, numa sequência ascendente, a uma das Sephiroth da Árvore da Vida Cabalística, incluindo Daath. Numa nota manuscrita, ele expõe o que considerou dever ser o objetivo geral do Conselho:
[o] “estímulo e alimentação da aspiração mística, mais especialmente na Maçonaria, para a Grande Obra de Reintegração com o Centro, ou União com o Divino como o Fim Supremo de toda investigação”.
Sempre um ritualista compulsivo, ele escreveu estes três rituais Martinistas retificados para formar a primeira dessas Ordens, um rito andrógeno, trabalhando em Malkuth, a mais baixa das Sephiroth.
Esta nova Ordem, o Rito Martinista Independente e Retificado, deveria ser estilizada como a Ordem dos Filósofos Desconhecidos. Iria ter três graus. Ele concebeu os rituais para cada grau e acrescentou notas preliminares para explicar a legitimidade e os objetivos do Rito. Entre as suas notas para o primeiro Grau, encontra-se a seguinte passagem reveladora:
“O Rito Martinista Retificado deriva de um Rito francês anterior que era de considerável atividade no país de origem e que tinha vários centros importantes em diferentes partes do mundo. Deriva-se, assim, por um duplo método de sucessão. Em primeiro lugar, por iniciação direta e afiliação com todos os graus através de um centro inglês autônomo [ou seja, através de Yarker], de acordo com o modo de difusão originalmente praticado pela Ordem. Em virtude desta filiação, o Superior Supremo do Rito Martinista Retificado [ou seja, o próprio Waite] tem plenos e completos poderes para conferir, à sua absoluta discrição, todos os graus do Rito. Em segundo lugar, o Superior Supremo, governando de dentro da Dirigência, possui uma Carta de Transmissão do Supremo Conselho da Ordem Martinista em França [ou seja, do grupo de “Papus”, fundado em 1891 como ‘L’Ordre des Supérieurs Inconnus’], com poderes para conferir os Graus fora de todas as condições e qualificações para além das Leis fundamentais que. nessa altura, regiam toda a Ordem. A sucessão do Rito Martinista Retificado está, portanto, acima de qualquer contestação e é necessário estabelecer este fato, em primeiro lugar, porque a Ordem na Inglaterra não só é autônoma como já há muito cortou a ligação oficial com o Corpo Governante da França, e, em segundo lugar, porque os graus da Ordem na Inglaterra são trabalhados pela atual dirigência de uma forma peculiar a si própria, que a Ordem Retificada é ainda regida por certas Leis especiais que são vinculativas para os membros que se afiliam. É por estas razões que a Ordem é denominada na Inglaterra de “Rito Martinista Retificado”.
Acrescentou, ainda, a razão para a sua determinação de se separar dos Grupos de “Papus”. Ele havia notado que, entre eles, discutiam-se temas maçônicos “na presença de pessoas que não haviam recebido iniciação regular [na Maçonaria] sob qualquer Obediência reconhecida”.
A nota introdutória de Waite no primeiro grau conclui com a seguinte declaração dos objetivos gerais de seu Rito Martinista Retificado.
“Ao perpetuar o nome do Martinismo, recorda apenas que o distinto místico francês [Saint Martin] se dedicou ao mais alto objeto de investigação, sendo o estudo e a realização das correspondências entre Deus, o Homem e o Universo, na unidade do Ser interior. A natureza dos três Graus que compõem o Rito são explicados como se segue:
O Primeiro Grau é de Dedicação, e é conferido, simbolicamente falando, como se se encontrasse dentro do Pórtico do Templo. O Segundo Grau é um ritual de Entrada ou uma Cerimônia do Umbral: realiza-se também simbolicamente dentro das portas do Templo. O Terceiro Grau é um processo de Delegação ou de Mandato, ligado a um especial Ato de Consagração. Está na natureza de uma sagrada Licença que confere poderes para a difusão do Ordem por constituição de novos centros de iniciação sob a Obediência dos Superiores Desconhecidos.”
De entre os membros da sua nascente Irmandade da Rosa Cruz, três foram escolhidos por ele – Horace G. Burrows, Alvin L. Coburn e Mary R. Rhys – para encabeçar este processo e receberam um mandato que os habilitava a “abrir um Santuário Secreto da Sagrada Ordem”, a realizar as cerimônias [que ele tinha concebido] de acordo com as linhas gerais consagradas na constituição geral do seu “Conselho Secreto de Ritos”, mas que também os habilitava a conceber os estatutos como e quando melhor lhes parecesse.
Um total de dez reuniões da nova Ordem dos Filósofos Desconhecidos foi realizado no período de 6 de dezembro de 1922 a 18 de março de 1924. As três primeiras tiveram lugar na ’60 Doughty Street’, Londres WC1; as duas seguintes foram em ‘Cae Besi’, Harlech; e as últimas cinco tiveram lugar na ‘9 Lower Mall’, Hammersmith, Londres W2. Durante esse período, houve apenas quarenta membros. Waite e outros treze da Irmandade da Rosa Cruz foram considerados como membros originários e vinte e seis foram admitidos como Postulantes no Primeiro Grau. Por concepção, houve igual número de homens e mulheres até, no entanto, três dos membros ‘originários’ – J.S.M. Ward, Jessie Page e Miss A.M. Lockwood demitiram-se por razões não conhecidas.
A partir de março de 1924, não se pode dizer se fora realizada mais alguma reunião do novo Ritual Martinista de Waite. De fato, definhou. Todos os membros registrados aderiram à sua Irmandade da Rosacruz. A Ordem Martinista foi simplesmente absorvida. Talvez Waite tivesse compreendido que a sua nova e revista forma de Martinismo era desnecessária como uma “rede de arrasto” [suas palavras] para recrutar companheiros entusiastas para o seu estilo de busca espiritual. Talvez ele tivesse percebido que é o ethos do Martinismo que é mais importante do que quaisquer formas cerimoniais externas. De fato, vale a pena notar que, em uma nota marginal de 1923, anexada a uma das suas cópias manuscritas pessoais dos rituais, ele indagou-se se as três cerimônias “deveriam ser reduzidas a um único grau”, o qual poderia ser preservado pelos “Apóstolos da Unidade”, a fim de atrair para os seus círculos aquelas almas “que são atraídas para a concepção da Vida Uniata”.
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Entre as características interessantes destes rituais há uma continuidade coerente do simbolismo de cores simples – preto, branco e vermelho – tanto no mobiliário como nos paramentos dos participantes. Os membros oficiantes são mantidos em uma quantidade mínima e as suas perambulações são simples. O seu equipamento é básico. A abordagem descomplicada, embora acumulativa, é sustentada na utilização dos sinais que são dados pelos membros. Gradualmente, à medida que um Aspirante é movido através de cada Grau sucessivamente, será movido para mais perto do santuário interior do templo metafórico, do Pátio Exterior (Cerimônia de Recepção), para o Pórtico (Cerimônia de Avançamento) e depois para o Santuário, para o ato final (Cerimônia de Ordenação). Este progresso é assinalado pela utilização dos três diferentes títulos concedidos sucessivamente (Neófito, então Associado e, finalmente, Superior Ignatus) e pela utilização de uma intensidade de luz sempre crescente que irradia do “tabernáculo” cubóide no topo do altar e pela sucessiva extinção das três velas do altar.
As complexidades do Rito residem nos diálogos cuidadosamente construídos e nas explicações dos símbolos martinistas contidos nos discursos mais longos. A densidade progressiva do simbolismo atinge o seu apogeu de forma adequada nos dois discursos do terceiro e último Grau e na explicação dos significados subjacentes do símbolo de S.I. utilizado como “assinatura” pelos membros deste Grau.
Notas do Editor
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