Ciência e Fraternidade

Nenhum adágio como “Força sem Matéria; nenhuma Matéria sem Força”, familiar da filosofia materialista, desenvolve-se afirmando que a força é uma propriedade da Matéria; uma propriedade governada por certas leis que reproduzem regularmente o mesmo fenômeno sempre que as mesmas circunstâncias ocorrem.

Se esta afirmação estiver correta, o formador e movedor universal é um Destino, um destino irresistível, do qual a Lei é a expressão, e nada pode modificar os fenômenos devidos a esta tirania, tal como a vemos exercida diariamente à nossa volta.

Ora, há toda uma ordem de fenômenos que mostram, pelo contrário, que estas leis mecânicas, físico-químicas ou biológicas, dadas como fatais, são ignoradas, violadas mesmo, pelo menos aparentemente, pelo Homem sob o esforço da sua vontade, ou por uma formação psíquica especial do seu organismo e das suas faculdades.

Exemplos desta aparente anomalia são já frequentes no Ocidente, multiplicados durante anos por hipnotismo, magnetismo, espiritismo, telepatia, e geralmente todos os fenômenos incluídos sob o vago nome do ocultismo.

A extensão total da sua manifestação nem sempre é apreciada; aqui estão algumas considerações sobre as suas consequências que submetemos ao leitor:

As forças da natureza, pelo menos como as conhecemos, não são inabaláveis, fatalmente imóveis; há uma que as pode dominar, a Vontade, e portanto o Pensamento. Isto é entre a Matéria e a Força como um mestre comum que dispõe da sua união como lhe apetece, para se realizar a si próprio pela forma individual que lhes dá. É precisamente este Pensamento que se expressa através daquilo a que chamamos uma Lei. É necessário recorrer ao ocultismo para afirmar isto? Qual é a nossa indústria, qual é toda a nossa civilização, se não uma adaptação da força à matéria, adequada à nossa vontade? Os fenômenos psíquicos são apenas uma nova confirmação do poder da nossa vontade; só através deles se estende ao mundo das segundas causas, e é isto que o torna tão interessante.

Se, agora, pelo exercício deste poder formativo que nos é concedido, indivíduos limitados e mortais, produzimos realizações em contradição com o Pensamento Universal, o realizador do Mundo e das suas harmonias, estas realizações são necessariamente mortais como nós e devem desaparecer do conjunto das coisas ainda mais rapidamente à medida que se opõem mais à Ordem Universal contra a qual se deparam, porque o Mundo só pode subsistir pela Unidade da Vontade suprema da qual é a expressão formal através da Força e da Matéria. É por isso que a Ideia Universal se torna para nós o Poder destrutivo fatal, o Destino contra o qual o nosso pensamento mal orientado ou rebelde se quebrou.

Temos apenas uma forma de escapar à dor tão angustiante como as suas terríveis lições, e que é conformar o nosso próprio Pensamento e todas as suas manifestações com o do Pensamento supremo e universal. Isolados, podemos desesperar de ter sucesso, tanto por falta de conhecimento como por fraqueza, mas reunidos, unidos, e sobretudo organizados hierarquicamente, podemos ter a certeza de ter sucesso mais ou menos rapidamente.

Pela unidade de direcção das nossas forças individuais multiplicamo-las muito para além do número das nossas personalidades e damos-lhes tanto poder de realização duradoura como de destruição quando se contrariam. Este é um facto de mecânica simples que é suficiente recordar para estabelecer a sua certeza.

Na hierarquia, encontramos o recurso excepcional que em todos os níveis da escada dos seres, temos sempre acima de nós Superiores imediatos mais esclarecidos e mais poderosos, prontos a ajudar a nossa boa vontade e a deixar-nos beneficiar da sua própria força, que é por sua vez ajudada pelos Poderes Superiores que os assistem.

Contudo, tal organização, que parece ser indispensável à realização cósmica, ou seja, ordenada e duradoura, pressupõe em cada um dos membros da cadeia: humildade, submissão aos superiores, devoção aos inferiores; amor entre todos pelo amor ao Todo e à Ideia suprema com a qual todos devem concordar; o desejo sincero de um conhecimento cada vez maior desta Ideia suprema.

Por outras palavras, o misticismo, a humildade e a fraternidade caritativa são as condições necessárias para obter um poder verdadeiramente fecundo no Mundo das realizações materiais e mesmo no das segundas causas onde nascem as formações reais; são as primeiras condições impostas a qualquer estudo saudável do ocultismo, seja qual for o grau. Só podem ser obtidos superando os movimentos desordenados das paixões egoístas dentro de si, ou seja, reprimindo os impulsos do coração e reduzindo-o a um ritmo harmonioso. O primeiro e não menor esforço é obter a paz de coração, sem a qual o nosso poder desordenado de realização se dissipa em formações destrutivas e perecíveis.

O segundo passo para a realização ideal é a união de boas vontades, assim aumentada e reforçada em paz; é como a multiplicação do pó da projecção na grande obra.

Depois disto, podemos abordar de forma rentável o ensino esotérico que nos tornará os realizadores efectivos da Ordem e da Felicidade Universal, nomeadamente:

1° – A Filosofia Esotérica que, elevando-nos acima de tudo as nossas concepções restritas e individualizadas da Universalidade das coisas, fará desaparecer as sombras, os terrores e as lutas absurdas de todo o sectarismo, revelando-nos a luz do único e único Pensamento Universal: Religião acima de todas as religiões que abraça e que são apenas os seus diferentes raios refractários; a síntese de todas as teorias particulares, fragmentos da Verdade total.
Em suma, a revelação da Idéia Suprema que se oferece ao nosso amor e exige a nossa participação a fim de a realizar.

2° – O Conhecimento dos Superiores Invisíveis que, através da Hierarquia divina, nos podem ligar à cadeia de realizações imortais, permitindo-nos cooperar de forma útil e alegre na Harmonia Universal. Meios a utilizar para obter a comunicação da sua sabedoria e apoio; meios também para nos defendermos dos ataques de erro e dos seus sempre prontos representantes, para atacar o mortal que penetra nos reinos do Invisível.

3° – Finalmente, e de uma forma mais geral, a manipulação da Força nos planos supra-sensíveis, quer com vista a orientar-se para lá, quer para os empregar ao serviço do bem universal.

Tais são, de facto, os ensinamentos que nos foram prometidos nos Centros Esotéricos do Oriente, como um desenvolvimento das faculdades latentes do Homem, mas são inseparáveis do esforço que propõem em primeiro lugar: ou seja, Paz do Coração e Irmandade, com vista à felicidade da Humanidade e Progresso para a Ordem Universal.

Professor F. Ch. Barlet.
Artigo Science et Fraternité, publicado na revista L’Etoile d’Orient, Jan, 1908.


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