Catecismo Gnóstico E.G.A.L./E.GRAAL 03 – Sacramentos

SACRAMENTOS

58. O que são os Sacramentos?

Tal como para a perspectiva ortodoxa (“não gnóstica”), a E.G.A.L. sustenta a compreensão teológica de que os Sacramentos são sinais que tornam o invisível visível; sinais visíveis que tornam uma Graça possível ou, ainda, sinais visíveis da própria Graça.

59. O que é a Graça?

Graça é um dom universal, o socorro gratuito que Deus dá aos homens para que possam ser capazes de agir por amor d’Ele, de modo a satisfazer as necessidades, quer sejam espirituais ou materiais. Há determinada similaridade entre a ideia da ação divina por meio da Graça e a prática do Melhorament cátaro. É a Graça que permite ao homem ser participante da natureza divina, da Vida Eterna e, da mesma perspectiva ortodoxa, ela é dividida em quatro tipos. A Graça Santificante é aquela que foi legada pela Paixão de Cristo, é dada no Batismo e atua pelo aflorar dos Dons do Espírito Santo. A Graça Atual, ao seu tempo, é a intervenção divina na vida do homem, como na situação de uma verdadeira conversão religiosa por meio de uma experiência pessoal. A Graça Sacramental se reflete nos dons recebidos pelo cristão por meio dos Sacramentos para ajudar em sua salvação ou, na perspectiva gnóstica, em sua libertação. Por fim, a Graça Especial, também chamada de Carisma, é aquela que é dada ao homem pelo Espírito Santo para o serviço da Igreja. Nesse particular, embora haja uma só Graça Especial ou Carisma, ela se manifesta numa multiplicidade infinita de expressões, motivo pelo qual se fala em “diversidade de Carismas”. Cuida-se justamente da ideia que Paulo expressou quando disse que “há diversidade de carismas, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos” (1 Cor 12:4-6).

60. Por que a Natureza é tida como o Sacramento da Alma do Mundo?

Uma vez que os Sacramentos são sinais que tornam o Invisível visível, ou sinais visíveis que tornam uma Graça possível, o alhar atento pode neles encontrar procedimentos essencialmente mágicos que estão fundamentados na utilização nem sempre consciente das Leis Universais da Criação (Leis de Logos). Nesse sentido, partindo do entendimento de que L-Sophia foi a grande Artesã do Universo, enxerga-se na Natureza (visível e invisível) o Seu maior Sacramento. Ou, ainda, enxerga-se nas diferentes manifestações da Graça presentes na Natureza os seus Sacramentos. A esse respeito, no evento da celebração da Missa, não estaria a Natureza muito bem representada no pão e no vinho? A teologia sacramental gnóstica propõe a Natureza e a VIDA, a qual nela subjaz como o Oitavo e, paradoxalmente, mais oculto Sacramento. Conforme a tradição hermética, a Sabedoria habita o Oitavo Céu.

61. O que é o Sacramento-Fonte?

L-Cristo é teologicamente o Sacramento-Fonte dos demais Sacramentos – sinais visíveis da Graça que, embora também tenham uma origem comum no Logos, complementam e buscam formar uma unidade com o Sacramento de L-Sophia – ou seja, com a Natureza e com as Graças naturalmente nela manifestas. As manifestações espirituais (sinais visíveis) que complementam as manifestações da Graça naturalmente visíveis na Natureza (Sacramentos de L-Sophia) são os Sacramentos de L-Cristo… Os Sacramentos por meio dos quais o seu AMOR por nós age sobre a nossa VIDA, de maneira que o homem se torne capaz de agir a partir do Amor de Deus.

62. Há uma compreensão particularmente gnóstica a respeito dos Sacramentos?

A teologia sacramental gnóstica não contradiz a ortodoxa, mas, em certo sentido, soma-se a ela e a aprofunda ao olhar para as mesmas questões ministeriais sob uma diferente cosmovisão. A E.G.A.L. associa a cada um dos Sacramentos, por exemplo, um EU SOU anunciado no Evangelho de João, com uma Igreja apresentada no Apocalipse de João e com um Planeta do Hermetismo. Compreende-se que tais associações são tão importantes que se tornou costume nomear os Sacramentos pelo nome de seu planeta correspondente. Convém notar que EU SOU não se resume apenas a uma afirmação ontológica, mas ao próprio nome do Deus dos hebreus revelado a Abraão: IHVH ou EU SOU O QUE SOU.

63. Quais são essas correspondências planetárias e joanitas?

BATISMO DA ÁGUASACRAMENTO LUNAREU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA
COMUNHÃOSACRAMENTO JUPTERIANOEU SOU O PÃO DA VIDA
BATISMO DO FOGO E CONFIMAÇÃOSACRAMENTO MERCURIALEU SOU A VIDEIRA VERDADEIRA
MELHORAMENTO E PREPARAÇÃOSACRAMENTO MARCIANOEU SOU O BOM PASTOR
MATRIMÔNIO E CÂMARA NUPCIALSACRAMENTO VENUSIANOEU SOU A PORTA DAS OVELHAS.  
ORDEMSACRAMENTO SOLAREU SOU A LUZ DO MUNDO
UNÇÃO PLEROMÁTICA E EXTREMA UNÇÃOSACRAMENTO SATURNINOEU SOU A RESSUREIÇÃO E A VIDA

64. O que é o Batismo?

O Batismo é o SACRAMENTO LUNAR e está proximamente relacionado a Gabriel, o “Anjo” da Anunciação. A Tradição Rosa+Cruz ensina que ele age de maneira muito importante no Corpo Lunar. Evidentemente, aqui se tangenciam os Mistérios Marianos, um reflexo, na Terra, dos Mistérios Sofiânicos. Maria, diante de Deus e da possibilidade da Sua Graça manifestar-se nas vidas dos homens, sempre foi tida pela Tradição Católica Joanita como a GRANDE MEDIADORA capaz de interceder por todos. O corpo sutil lunar também é referido sob o nome de corpo astral ou envoltório plástico.

A Arte do Sonho, também chamada de Arte do Desbravamento, é o primeiro dos Reconhecimentos do Discípulo. A humanidade está destinada a desbravar o mundo astral. Mesmo o Homem sendo originário do Mundo Celeste, hoje, caído, ele atua em uma realidade com a qual ainda não está habituado. Adão não se recorda mais de quem é, do seu lar original e desconhece o local que hoje habita. A materialidade é a expressão mais densa da própria realidade astral. No nascimento, o “eu”, o centro da percepção a respeito de quem somos e de onde estamos, passa a se formar, a ser constituído. A psicologia profunda, desde os seus primórdios, interessou-se muito por esse processo e, desde então, em muito progrediu nessa investigação. Um querido professor da E.G.A.L., Eq. AAF, expõe a perspectiva de que essa formação do “eu” simplesmente perfaz a necessidade de que um outro “eu” também seja formado – um “eu” capaz de habilmente transitar pelo Mundo dos Orbes. Por meio desse segundo “eu”, composto pelos Corpos Lunar e Mercurial, se pode contemplar e recordar o Verdadeiro Eu, aquele ainda mais profundo que habita o Mundo Celeste, em igualdade com os anjos, e que a Tradição denomina Eu Solar – o EU SOU, uma fagulha do próprio Logos.  Eq. AAF se refere ao “eu” do Corpo Terrestre como o lastro ou o peso cuja densidade é necessária para o desenvolvimento, “embaixo”, do mais sutil e etéreo Corpo Lunar-Mercurial que, por sua vez, está destinado a manifestar, quando do advento do Reino do Espírito Santo, o Corpo Solar de Glória em todo o divino esplendor. Não é sem razão, aliás, que alguns místicos igualam o Reino do Espírito Santo ao Reino de Maria descrito, no seio da Igreja de Roma, por São Luis Maria Grignion de Montfort.

Vê-se, assim, a importância da Graça que, por puro amor, é presenteada pelo Altíssimo no momento em que o homem é batizado. A E.G.A.L. tem os Sacramentos como procedimentos essencialmente mágico-teúrgicos fundamentados na utilização, nem sempre consciente, das Leis Universais da Criação (Leis do Logos). Pelo ministério sacerdotal dos Sacramentos, o Logos se manifesta na vida de seus Iniciados de modo a auxiliá-los no Caminho.

O Sacramento Lunar é o pórtico de entrada para a Ecclesia de Deus (Ecclesia Catholica – Una, Indivisível e Universal). Por meio dele, o Catechumenus é nomeado frente à comunidade, torna-se Neophitus [Nova Planta] e Ninfiusita (Banhista) e aproxima-se da Vida Eterna e da Sacrossanta Gnose. Desde uma perspectiva exotérica, o batizado nasce para a vida em L-Cristo e torna-se, por conseguinte, Cristão. Desde uma perspectiva prístina e esotérica, nasce para o Logos e para os Mistérios, agindo de modo muito especial sobre o Corpo Lunar do Neófito.

Os Irmãos e as Irmãs que já foram batizados de maneira regular em Igrejas depositárias de herança apostólica, não importando a sua denominação, são considerados validamente batizados pela E.G.A.L. e o Batismo da Água é-lhes dispensável. O Batismo é irrepetível. É o próprio Logos, e não seu Sacerdote (seu instrumento) que recebe o novo cristão no seio da Ecclesia (e não apenas no seio de uma Igreja em particular).

Em circunstâncias emergenciais, como no caso do risco de morte, considera-se perfeitamente possível, tal como na ortodoxia (isto é, nas comunidades cristãs “não gnósticas”), que qualquer batizado possa batizar de maneira válida conforme a fórmula apropriada (“eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). Entretanto, assim que possível, o Catechumenus deve se submeter ao rito completo, dentro de um Santuário. O nome recebido pelo Catechumenus no transcurso de seu Batismo da Água é o seu nome profano, pelo qual a comunidade já o conhece. Na Tradição, o Nome Místico somente é recebido no Batismo do Fogo, quando o Neophitus torna-se Perfectus e passa a compor o Círculo Interior dos Perfeitos.

Os Santuários avaliam como Candidato ao Batismo todo Iniciado apresentado por um Padrinho ou Madrinha, preferencialmente um Perfectus da Assembleia. A partir de tal indicação, dá-se início à sua formação introdutória. Não há restrição de idade, exigindo-se, contudo, que o agora Aluno Secreto, que se submeteu à provação habitual do Silêncio, seja suficientemente maduro para conscientemente poder escolher solicitar ou não a sua recepção pela Igreja e na Igreja. Para apresentar um Iniciado, é costume que o Padrinho ou Madrinha enderece uma carta de apresentação redigida à mão ao Sacerdos responsável por seu Santuário. Ainda que seja possível a instrução por correspondência, por meio de cartas, alguns Santuários optam por ministrar o curso introdutório de maneira presencial. De todo modo, o Sacerdos somente aprovará a entrada do Aluno Secreto no Círculo Exterior dos Neófitos da E.G.A.L. se obtiver certeza a respeito das intenções do Iniciado. 

O rito próprio de Batismo da Água para Crianças deve ser utilizado pelo Sacerdos quando diante da demanda de batizar crianças que sejam filhos da Assembleia de seu Santuário. Se requerido de igual modo por uma pessoa distanciada da Senda da Iniciação, o Sacerdos pode administrar o Sacramento do Batismo da Água, segundo as fórmulas tradicionais do sacerdócio segundo a Ordem de Melquiseque, em nome da Ecclesia Catholica Apostolica Sancti Iohannes (Igreja Católica Apostólica Joanita – E.C.A. S+I+). A formação sacerdotal da E.G.A.L. exige que seu clero se dedique à formação sacerdotal da E.C.A. S+I+ para que, sempre que for necessária a atuação ministerial menos discreta do que as exigências da Igreja Gnóstica, isso possa ser realizado sob os auspícios da Tradição Joanita.

65. O que é a Transmissão do Pater?

Neófitos que já foram batizados são formalmente recebidos em nossa comunidade por meio da Transmissão do Pater que, embora englobe o ministério de um Sacramento (Sacramento do Melioramentum), não deve ser compreendido como um Sacramento no sentido Católico, mas como um serviço litúrgico ao Logos dentro do qual um Sacramento é ministrado. No caso de Irmãos e Irmãs que receberem o sacramento do Batismo da Água no seio da E.G.A.L./E.GRAAL, eles devem aguardar o mínimo de três lunações antes de receberem a transmissão do Pater.

A despeito de seu nome e da inspiração na Igreja Cátara, a Transmissão do Pater não revive a transmissão cátara da oração em sua literalidade. Em determinados aspectos, a Transmissão do Pater é considerada como preparatória para o Sacramento do Batismo do Fogo.

Durante a Transmissão, uma solene promessa é feita pelo impetrante no momento em que ele recebe o Pater:

Promete que, doravante, não mentirás, não matarás, que cuidarás de teu corpo e de tua alma, bem como que nunca caminharás sozinho quando for possível ter um companheiro e que nunca abandonarás tua fé por medo da água, do fogo ou de qualquer outro tipo de morte?

Quem recebe a Santa Oração, de Deus e da Igreja, possui o poder de dizê-la por toda a vida, dia e noite, sozinho ou em companhia, e se compromete a não se alimentar antes de recitá-la. A Transmissão do Pater é encerrada pela seguinte importante advertência:

Se queres entrar na Vida Eterna, guarda os mandamentos: amarás a teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todo o teu espírito, e ao próximo como a ti mesmo.

66. O que é o Sacramento da Comunhão?

A missa é o ato litúrgico no qual se renova, de modo místico e incruento, o sacrifício cruento de L-Cristo na Cruz e no qual se administra aos fiéis, pela Eucaristia, o alimento espiritual para as suas almas. Na missa, portanto, celebra-se não somente um Sacramento, mas se renova também um sacrifício, o verdadeiro e perpétuo Sacrifício da Nova Aliança.

Quanto à celebração eucarística, a principal diferença de perspectiva entre as diversas denominações católicas (isto é, oriundas e emanadas da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica) e as igrejas reformistas é que, para estas últimas, a ceia eucarística é um mero memorial, uma encenação da Última Ceia para fins rememorativos, ao passo que, para as primeiras, a Eucaristia renova o REAL sacrifício do Cristo no calvário.

O sacrifício é uma oferta voluntária de uma coisa sensível que é destruída, se for um ser inanimado, ou imolada, se for um ser animado. Isso é feito por um ministro legítimo e deriva da compreensão de uma dupla obrigação do homem para com Deus: a dependência absoluta como criatura e a inimizade com Ele, como pecador. Alternativamente, podemos tornar a mencionada inimizade como uma forma de distanciamento produzida por nossa atual circunstância. De todo modo, a necessidade do sacrifício como reconhecimento de nossa dependência de Deus sempre existiu, mesmo no estado de inocência de nossos primeiros pais no paraíso terrestre, antes da queda: Adão e Eva, mesmo se não tivessem pecado, teriam de oferecer sacrifícios a Deus, em sinal de submissão e de gratidão. Ainda seguindo o pensamento ortodoxo, quando o pecado abriu um abismo entre Deus e o homem, o sacrifício assumiu uma segunda finalidade, tornando-se um meio de reconciliação. O sacrifício, enquanto expiação do pecado, tem o caráter de representação ou de substituição.

Na antiguidade, e ainda hoje, havia sacrifícios cruentos e sacrifícios incruentos (sangrentos e não sangrentos). Os primeiros consistiam na imolação, no derramamento do sangue de um ser escolhido no reino animal. Nos segundos, em que não se derramava sangue, as ofertas eram escolhidas no reino vegetal e podiam ser objetos sólidos ou líquidos. Tradicionalmente, os sólidos eram queimados e os líquidos derramados ao pé do altar. Muito comumente, oferece-se também o incenso. Na Nova Aliança, contudo, a perspectiva ortodoxa propõe que há apenas um só sacrifício: o sacrifício que Jesus Cristo instituiu na última ceia, consumou no dia seguinte sobre a cruz e que a missa renova todos os dias. Antigamente, o sacerdote era distinto da vítima sacrificial. Na Nova Aliança, o Sacerdote não é Sacerdote senão em dependência de Cristo e só age como seu representante. Ele celebra o Mistério da Eucaristia in persona Christi (isto é, na pessoa do Cristo).

Sobre a celebração da Missa nos tempos apostólicos, algumas informações são destacadas dos Atos dos Apóstolos e das Epístolas de São Paulo. Os cristãos de origem judaica continuaram durante determinado período a tomar parte no serviço religioso que se realizava no Templo de Jerusalém ou nas sinagogas. Seguia-se a sequência litúrgica da leitura da Torá, seguida de uma homilia sobre o texto lido, o canto dos Salmos e orações. Nessa influência, encontramos a origem da primeira parte da missa, conhecida como Liturgia dos Catecúmenos ou Liturgia da Palavra. A este serviço religioso da sinagoga foram sendo acrescentados elementos novos próprios da religião cristã como o ágape ou ceia fraternal que, de acordo com São Paulo, era tomado no início das reuniões; certas manifestações de carismas ou dons espirituais que acompanhavam a efusão do Espírito Santo, como o dom da profecia e das línguas, bem como a Ceia do Senhor, que se celebrava especialmente aos domingos e na qual se fazia a consagração do pão e do vinho seguida da comunhão. O ágape e a manifestação dos carismas desapareceram rapidamente da Igreja devido ao desvirtuamento de sua finalidade.

São Justino, que morreu em 165, deixou testemunho da sequência detalhada dos atos praticados nas assembleias e a maneira como a Eucaristia era celebrada em Roma e nos países onde viveu, a Palestina e o Egito. De acordo com ele, no dia dito do sol, reúnem-se em um mesmo lugar todos os cristãos, os que residem na cidade e os que residem no campo. O leitor lê trechos tirados das memórias dos Apóstolos e dos livros dos Profetas. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para explicar aos presentes o que foi lido e exortá-los a pôr em prática tão belos ensinamentos. Em seguida, todos se levantam e dirigem a Deus orações e súplicas. Suspendendo as orações, todos se abraçam. Depois, levam àquele que preside a reunião dos Irmãos em Cristo o pão e um cálice contendo vinho misturado com água. O presidente toma o pão e o cálice, louva e glorifica o Pai do universo em nome de seu Filho e do Espírito Santo, dirige-lhe abundantes ações de graça por se ter dignado a dar os dons. Terminada essa oração, todos os presentes exclamam: Amém. Depois, os ministros, chamados de diáconos, distribuem a todos os presentes o pão da Eucaristia e o vinho misturado com água. Esses mesmos diáconos levam aos ausentes sua parte do pão e do vinho eucarísticos. Por fim, os ricos socorrem os indigentes.

Dos documentos disponíveis sobre as celebrações litúrgicas nos quatro primeiros séculos – a Didaqué (90dC), a Apologia de São Justino (150dC), as homilias de Orígenes (255dC) e as Constituições Apostólicas (410dC) –, conclui-se que, nas Igrejas de Roma, Alexandria, Antioquia e norte da África, ainda que o celebrante tivesse grande liberdade na composição litúrgica, havia grande uniformidade nas linhas gerais, isto é, a liturgia dos catecúmenos com leituras, homilia e oração, e a liturgia dos fiéis com o ósculo da paz, súplicas, anáfora ou ofertório, narração da última ceia, consagração, anamnese e comunhão. A grande causa da unificação dos ritos foi a influência das grandes metrópoles. As Igrejas de Antioquia, de Alexandria e de Roma empenhavam-se em propagar a fé cristã nas regiões vizinhas. As novas Igrejas adotavam os usos litúrgicos da Igreja-Mãe que a fundou. E, assim, os vários ritos foram conhecidos pelo nome da Grande Igreja que os usava: Rito Antioqueno, Rito Alexandrino, Rito Romano, Rito Bizantino (relativo a Bizâncio-Constantinopla).

No fim do século IV e começo do século V, encontram-se quase definitivamente constituídas três famílias litúrgicas, ou ritos, conhecidas pelos nomes das três grandes Igrejas patriarcais, a saber: Rito Romano, Rito Alexandrino e Rito Antiqueno. O primeiro e suas ramificações formam o que se convencionou chamar de ritos ocidentais e os dois últimos, ritos orientais. O Rito Ocidental ou Latino teve duas ramificações principais: Rito Romano e o Rito Galicano, que, posteriormente, nas Ilhas Britânicas, deu origem ao Rito Celta, mas que também originou o rito africano do norte, moçárabe e ambrosiano.  Ao Rito Alexandrino pertencem o Rito Copta, no Egito, e o Rito Etíope ou Abissínio. Do Rito Antioquino deriva a maioria dos ritos orientais atualmente em uso: o Siríaco, o Caldaíno, o Armênio, o Maronita e o Bizantino. Com relação ao Rito Bizantino, destaque-se que ele é composto por três liturgias distintas: a Liturgia dos Pré-santificados, a Liturgia de São Basílio e a Liturgia de São João Crisóstomo. A Liturgia de São João Crisóstomo, tal como a Tridentina, é considerada como uma Liturgia Oficial da Igreja Católica Apostólica Joanita.

Na Liturgia da Missa, o Sacramento da Comunhão (Jupteriano) é celebrado e o Sacerdote realiza o Mistério da Transubstanciação – um ato, por excelência, teúrgico em natureza. O fenômeno da transubstanciação tão somente pode ser bem compreendido se fizermos uso dos conceitos aristotélicos de “substância” e “acidente”. “Substância”, ousia em grego, significa o que faz uma coisa ser ela mesma, ou seja, sua essência. Tome-se um objeto qualquer, um lápis, por exemplo. Sua forma, cor, tamanho, aspereza ou qualquer outro detalhe sobre o lápis que seja perceptível ao sentido não é o próprio lápis. O lápis possui uma forma, cor etc., mas é um objeto distinto dessas aparências. As aparências, que são chamadas de “acidentes” dentro da filosofia aristotélica, são perceptíveis aos sentidos, mas a substância não o é. Essa discussão é importante pela compreensão teológica de que, na Eucaristia, a substância do pão é convertida na substância do Corpo e a substância do vinho é convertida na substância do Sangue. Desse modo, mesmo que as aparências, que são abertas aos sentidos, ou o acidente, aquelas do pão e do vinho, a substância ou essência não é mais a mesma. Dessa perspectiva teológica, por meio da Transubstanciação, Cristo está real, verdadeira e substancialmente presente sob as aparências remanescentes do pão e do vinho e a transformação permanece pelo tempo em que as aparências remanescerem, ou seja, durarem. Convém abrir breve parêntese para acrescentar que, desde a instituição da Eucaristia, na última Ceia, até os dias de hoje, vêm ocorrendo milagres eucarísticos em que o pão e ou o vinho tornam-se materialmente o Sangue e o Corpo do Cristo (isto é, transformam-se). Uma curiosidade impressionante é que, desde que a ciência moderna pôde analisar essas espécies, sempre se constatou que se trata de sangue AB, o mais comumente encontrado entre os judeus do Oriente Médio dos tempos evangélicos, e que a carne é um pedaço de miocárdio (músculo cardíaco ou coração) extraído de uma pessoa ainda viva!

Por consequência da Transubstanciação, o Logos unifica-se enquanto suas expressões como L-Sophia e L-Cristo e manifesta-se de modo íntegro na Ecclesia. Esse é o meio para a manifestação da Luz do Mundo, bem como para que a Luz da Sacrossanta Gnose possa brotar a partir de nossos corações. Quando conscientemente vivenciada, a Comunhão proporciona profundas experiências espirituais e gnósticas. Comungar é receber o próprio Logos que por nós se oferece. Quando tal afirmativa é compreendida em seu aspecto esotérico, a E.G.A.L. concorda com a perspectiva ortodoxa de que a Santa Missa é a renovação do sacrifício da Cruz e o ato central do culto cristão. Nela, oferecemos ao Inefável o que ele mesmo nos deu: o pão e o vinho (os dons da criação) que, pelo poder do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue.

Na celebração da Missa, a Natureza se encontra muito bem representada no pão e no vinho que, quando transubstanciados em Corpo e Sangue de L-Cristo, pelo Mistério da Câmara Nupcial, permitem a Comunhão Logos em sua integralidade. Uma vez que o Logos é o Sacramento (em-potencial) do Inefável, por meio do Casamento de L-Sophia com L-Cristo, pela Comunhão com o Logos, o Sacramento Jupteriano, cria-se a possibilidade da experimentação da Sacrossanta Gnose. e daquilo que transcende o universo imediato e conhecido. No hermetismo clássico, Júpiter é um planeta de expansão. Pode-se estar a indagar onde entraria L-Sophia nesse Mistério Eucarístico e a resposta está exposta aos olhos de todos, mas velada aos olhares profanos: a gota d’água que o sacerdote acresce ao vinho conta com tripla interpretação no catolicismo “não gnóstico”: é a linfa de Yeshu, os sofrimentos de que padece toda a humanidade e as lágrimas de Maria, a corredentora. Eis, pois, nesta última interpretação simbólica, a participação mística de L-Sophia nesse Augusto Mistério.

O Mistério do pão e do vinho é anterior ao cristianismo. Isso precisa ser definitivamente reconhecido. Por meio desse Antigo Mistério, a presença viva do Logos torna-se acessível àqueles que habitam no Caminho. Sol Invictus! Os acontecimentos do calendário litúrgico cristão podem ser apreendidos ao menos sob duas perspectivas muito distintas: eles podem ser vistos como momentos de memórias acerca de acontecimentos históricos, ou, sob um prisma prístino, como celebrações de diferentes fases ou momentos que demarcam a relação do Deus Solar com a humanidade. Na Igreja Primitiva, por meio da participação nesse Mistério, o gnóstico era preparado para a experimentação do supremo Mistério da Câmara Nupcial.

A E.G.A.L. adota a Liturgia da Missa Gnóstica da Eterna Luz como oficial, mas possui liturgias complementares, tais como a Liturgia Gnóstica Doineliana, a Liturgia Gnóstica do Mistério Nupcial, a Liturgia Gnóstica Rosacruciana, a Liturgia Gnóstica Celta, a Liturgia Gnóstica Templária e, acessível aos Perfeitos da Igreja do Graal, a Liturgia Gnóstica da Sacrossanta Luz e a Liturgia Gnóstica Sofiânica. Todas essas liturgias, tamanha a sua riqueza mística e cultural, compõem uma indescritível herança iniciática honradas nas comunidades e que podem ser adotadas nas datas propícias, bem como quando o Sacerdos não contar com a estrutura de um Santuário para a realização dos Mistérios. Sob essa última circunstância, também é comum que nossos Sacerdotes ministrem a Eucaristia em conformidade com o Missal Tridentino, uma liturgia oficial da Igreja Católica Apostólica Joanita.

67. Por quais partes a Sacrossanta Missa é composta?

Quando a Liturgia da Missa da Eterna Luz é observada, o Sacerdote se prepara pela realização do Sanctus Mysterium Sacerdos, um importante rito teúrgico da Igreja do Graal que preparará seu corpo para o exercício sacramental. Já na Sacristia do Santuário, o Sacerdote é auxiliado pelos acólitos no rito de paramentação. Quando necessário, ele, então, faz a instalação do Altar do Sacrifício por meio das fórmulas tradicionais e, em seguida, procede com o rito do Incensamento do Santuário. O Incensamento é um rito obrigatório, que conta com a participação do Sacerdote e dos Diáconos. No transcurso do rito, a lamparina do Santuário é acesa, bem como o Levitikon é aberto e a importante Invocatio Lumine é realizada.

Depois do Incensamento, o Sacerdote deixa o Santuário e aguarda, na Sacristia, que a Assembleia tome seu lugar. A entrada é feita ne seguinte sequência: Neófitos, Perfeitos, Irmãos Menores, Diáconos, Sacerdotes, Bispos e Pontífices. Todos se movimentam de acordo com o sentido dos ponteiros do relógio. Com exceção dos Neófitos, todos os membros da Assembleia fazem uma Saudação em direção ao Altar da Cruz antes de se dirigirem aos seus lugares. A saudação, oralmente ensinada, segue o gestual específico do Sacramento do Melhoramentum.

A primeira parte da Missa, então, é iniciada. Comparando-se a Liturgia da E.G.A.L. e a Missa Tridentina, conclui-se que, ainda que a segunda parte da missa, que contém o sagrado cânon, se assemelhe em diversos pontos, suas respectivas primeiras partes conversam em pouquíssimos pontos (o que não implica divergência, mas apenas modos diversos de celebrar o mesmo Mistério). Nesse primeiro momento, são observados costumes gnósticos tradicionais oriundos das quatro Eras históricas da Igreja Gnóstica da França. Tudo se inicia quando o Sacerdote retorna ao Santuário e, ainda no Oeste, recita o Introibo. A Assembleia recebe o Sacerdote de pé. Ele, então, dirige-se ao Centro e entoa o Nomini, que é a invocação do Nome de Deus e, se julgar pertinente, também recita um Hino que confere um empoderamento muito particular. Ao alcançar sua Cátedra, o Sacerdote canta o Beati, que é acompanhado por toda a Assembleia. Aquele que participa dessa liturgia perceberá que apenas muito raramente o Beati não é recitado ou cantado no seu início e, por esse motivo, espera-se que os membros da Assembleia saibam-no de cor. Todos, então, sentam-se e meditam por alguns momentos. É nesse momento que os presentes fazem o exame da consciência, tomando consciência dos pontos a respeito dos quais precisam melhorar ou das suas enfermidades espirituais.

Depois de alguns instantes, o Sacerdote se levanta e a Assembleia o acompanha. Ele concede o Consoletur, que é uma poderosa benção gnóstica, com toda a força apostólica. As intenções da Assembleia são, então, recolhidas pelo Sacerdote por meio do Colligere, que costumeiramente pede luz e sabedoria para os Sacerdotes e os membros da Ecclesia, e o Septem Logoi et Quattuor Custodiae é realizado. Este último é a invocação da presença dos Sete Logoi e dos Quatro Espíritos Tutelares por meio da lenta e vibrante entoação de seus nomes. A cor correspondente a cada um deles é visualizada pela Assembleia no momento em que o Sacerdote procede com a respectiva invocação. O Gradus e o Evangelli Segundum Joannem, ou seja, a leitura do Evangelho de João, são executados nesse momento. Todos se sentam e as Sacrae Meditationis, com a leitura de um texto sagrado, e os Sermones, um brevíssimo sermão feito pelo Sacerdote, são executados. Desse modo, encerra-se a primeira parte da Liturgia da Missa da Luz Eterna.

A segunda parte da Liturgia começa com o Offertorium, que é o oferecimento do Sacrifício ao Altíssimo, e segue com o Incensationem, o segundo incensamento. O auxílio dos Diáconos e Subdiáconos é muito importante para o Sacerdote nesse momento. O Sacerdote e, em seguida, toda a Assembleia passa pelo Lavabo, buscando a purificação necessária para a correta participação no Mistério da Comunhão.

As partes da liturgia que ocorrem em seguida são muito parecidas com as da Liturgia Tridentina: Orate, Secreta, Sursum Corda, Prefatio, Epiclesi, Pro Ecclesia, Viventem, Memoriam Venerantes, Anamnesis et Consecratione, Quae Propitio, Defunctorum e Pater. Ainda que a Liturgia seja completamente realizada em latim, na parte da Consecratione há uma recitação em grego. Preserva-se, assim, um costume iniciado pelo Patriarca Jules Doinel.

A Communio é, então, realizada. O Sacerdote posiciona-se na frente do Altar do Sacrifício e a Assembleia, girando em círculo no sentido horário, passa à sua frente, parando brevemente para receber o Corpo e o Sangue. Durante todo esse movimento, o Cântico Sagrado é entoado por toda a Assembleia. Trata-se de um momento muito especial e muitos dos membros da nossa Igreja relatam sentir uma intensa ascensão enquanto a teurgia se realiza. O Cântico é composto pelas diferentes vogais, da seguinte forma: A O IO IEOUA. A sequência A O IO é uma forma de saudação invocatória aos diferentes aspectos do Logos. Encerrado o movimento circular, todos se sentam para meditar enquanto o Cântico é mantido por alguns minutos.

A Liturgia começa a encontrar seu desfecho quando o Sacerdote recita o Remedium Sempiternum, onde a Eucaristia é citada como o necessário remédio para a alma, a Oração Angélica, sempre presente no encerramento de nossas atividades, repete o Consoletur e declara o Missa est. Quão abençoados são os que podem tomar parte de tão sagrado momento!

68. O que é o Batismo do Fogo?

O Sacramento Mercurial é aquele que a ortodoxia chama de Confirmação. Na E.G.A.L., ele é conhecido como o Batismo do Fogo (Consolamentum) e considerado um rito de iniciação mística reservado a Neófitos selecionados que desejam ser inseridos em uma forma especial de Comunhão Espiritual. A despeito da inspiração albigense de seu nome, o Batismo do Fogo (Consolamentum) pouco se relaciona com o Consolamentum cátaro.

Na Igreja Primitiva, na Roma dos Concílios e na Ortodoxia, a Confirmação é adotada como forma do Sacramento Mercurial. Torna-se claro como um mesmo Sacramento pode manifestar-se de maneiras distintas, ou, buscando maior precisão, o modo como a mesma Graça manifesta-se por vias sacramentais distintas. Tanto a Confirmação, voltada a que o Impetrante receba o “selo do dom do Espírito Santo”, quanto o Batismo do Fogo atuam sobre o corpo mercurial do Neófito. No último, entretanto, aspectos dos Mistérios são preservados, de modo a garantir ao Neófito acesso ao Círculo Interior dos Perfeitos da E.G.A.L./E.GRAAL pela iniciação no Grau Gnóstico de Fibionista.

A lua cheia de Touroé especialmente propícia para a transmissão da graça do Sacramento Mercurial. Essa data, que coincide com a de um importante festival budista, é mencionada no Pistis Sophia como o dia em que, após subir o Monte das Oliveiras com os discípulos, Jesus acende aos céus e depois retorna envolto por três vestes de luz. Por meio do Batismo do Fogo, o Neophitus se aproxima ainda mais da Vida Eterna e da S.G. e, dessa maneira, torna-se um Perfectus da Ecclesia de Deus. Essa transição significa a vinculação definitiva com a manifestação Gnóstica da Ecclesia [Ecclesia Gnostica]. O correto e verdadeiro entendimento acerca das Valorizações e das Disciplinas que constituem os Reconhecimentos do Discípulo é necessário para que o Neófito meritoriamente se torne Perfeito. Durante o rito do Batismo do Fogo, o novo Perfectus recebe seu Nome Místico– nome pelo qual passará a ser conhecido entre os Irmãos do Santuário.

O ministro do Sacramento Mercurial deve ser um Episcopus e o rito é conduzido em um Grande Santuário da Gnose. Os Sacerdotes selecionam Candidatos em seus Santuários e, por meio de uma carta de recomendação, submetem seus nomes ao Episcopus responsável. Todo Episcopus tem a prerrogativa de aceitar e de recusar as indicações recebidas.

Neófitos são considerados aptos a serem indicados para receber o segundo Batismo quando são membros dedicados e atuantes de um Santuário por um mínimo de um ano, tenham recebido e observado as regras do Pater e forem proficientes no entendimento das disciplinas do esoterismo cristão e do gnosticismo cristão. Contudo, tão importante como critério de seleção quanto o saber intelectual é o saber vivencial. É por esse motivo que os Perfecti são tradicionalmente tidos como aqueles que deixaram de “crer” e passaram a “saber” – Perfeitos em Sabedoria. Desde uma perspectiva prístina e esotérica, é o próprio Neophitus que se torna um Perfectus e a Ecclesia nada mais faz do que confirmar, pela via sacramental, seus próprios méritos.

A entrada nos Círculos mais interiores da E.GRAAL é um passo muito importante e entende-se que quem se torna um Perfeito da Igreja é uma pessoa que se encontrou dentro do Caminho Gnóstico de tal forma que seu vínculo com a Tradição tornou-se pedra fundamental de sua própria vida. O preparo para a recepção do Batismo do Fogo é feito pelo emprego de uma Litania Sofiânica própria e, dessa vez, o Padrinho do Neófito é o próprio Sacerdos de seu Santuário. Ou seja, na E.G.A.L., a partir desse momento, passamos a ter dois Padrinhos ou Madrinhas – um na Igreja Exterior e um na Igreja Interior. Evidentemente, somente os Perfecti podem tomar parte do rito do Batismo do Fogo e não atender ao rito quando convocado por um Episcopus é considerado falta grave. Quando convocados, todos os Perfeitos se apresentam com suas alvas, cíngulos e devem estar munidos de seus Lumina. Trata-se de um momento muito aguardado por quem passará pelo Batismo. Outras situações, como a realização do Rito Íntimo, por meio do qual se acessa reinos mais sutis da manifestação, e a celebração da Missa Sofiânica também são atendidas apenas pelos Perfeitos da Igreja.

69. O que é o Melioramentum?

O Melioramentum (Melhoramento) é o Sacramento Marciano. Por ele, os Perfecti solicitam ao Logos a Graça de serem melhorados. No Melioramentum, o Perfectus saúda o Sacerdos em adoração ao Espírito Santo que nele reside. Por esse gesto, roga para ser melhorado, curado de suas enfermidades espirituais ou aperfeiçoado quanto a um problema que identificou e a respeito do qual esgotou todos os recursos disponíveis para superar. Evidentemente, o problema aqui referido deve constituir um entrave para o Caminho. Isso significa uma verdadeira ressureição espiritual. O Melioramentum deve ser ministrado somente depois do Perfectus ter procurado aconselhamento sacerdotal com um Sacerdos e de que todos os recursos disponíveis tenham sido utilizados.

Roma e a Ortodoxia adotam a confissão dos pecados ao Sacerdote e a penitência – Sacramento da Reconciliação – como forma de Sacramento Marciano. Tal costume, entretanto, não é usual dentro das manifestações gnósticas de Ecclesia. A fim de jamais violar os votos do serviço sacerdotal, o procedimento próprio para a penitência, segundo as fórmulas tradicionais do sacerdócio segundo a Ordem de Melquiseque, em nome da Ecclesia (Universal) ou da Igreja Joanita, pode ser utilizado pelo Sacerdos quando diante dessa demanda, desde que sincera. De igual modo, embora isso não seja muito usual, o Rito do Exorcismo segundo as fórmulas tradicionais do sacerdócio segundo a Ordem de Melquiseque, em nome da Ecclesia (Universal) ou da Igreja Joanita, pode ser utilizado pelo Sacerdos quando diante da necessidade de fazê-lo. A maldição e a excomunhão também se relacionam com os fundamentos marcianos.

70. O que é o Appareillamentum?

O Appareillamentum (preparação) é uma variação especial do Sacramento Marciano ministrado por um Episcopi para a preparação dos Diaconi que receberão a ORDEM DO PRESBÍTERO. De inspiração cátara, tal como o Melioramentum, o Appareillamentum manifesta na E.G.A.L./E.GRAAL o Mistério da Redenção segundo a Igreja Primitiva. Na Redenção, o gnóstico se conscientiza e, por consequência, se torna livre de poderosas ligações com os regentes que se tornam nocivas a partir de um momento preciso da Senda.

71. O que é o Sacramento do Matrimônio?

O Sacramento do Matrimônio ou Sacramento Venusiano estabelece e santifica a união entre duas almas que, em laços de amor, fidelidade e constância, a partir de então, constituem uma nova família. A celebração do matrimônio cria um vínculo ou aliança que une os cônjuges em nome de Deus. Desde o ponto de vista esotérico, por meio deste Sacramento, um pacto de intimidade e companheirismo é formado entre dois indivíduos, não importando questões de gênero e de orientação sexual, que se desnudam diante do Logos. Tal pacto diz respeito ao empreendimento conjunto do Caminho, à Habitação da mesma Casa, de sorte que as duas almas possam se apoiar frente aos momentos de dificuldade. A Graça matrimonial é a força trazida pelo Logos ao novo casal. Não se trata, pois, da busca, no outro, da integralidade perdida. Trata-se, mais precisamente, da sacramentalização da confiança no apoio mútuo na busca pela própria integralidade – um Sacramento de comunhão de vida.

Esse Sacramento celebra a memória do supremo Mistério da Câmara Nupcial – às vezes chamado de Casamento Espiritual ou Mistério das Sizígias – que garante a associação perfeita entre corpo, alma e espírito e, por conseguinte, eleva o Iniciado ao Grau Gnóstico de Zacheita. Nesse momento, a plenitude do Pleroma passa a não mais ser desejada, pois a terra e o céu, o abaixo e o acima, tornam-se UM.

72. Qual a raiz da Tradição da Câmara Nupcial?

Trata-se do Evangelho de Felipe, da biblioteca de Nag Hammadi. Esse apócrifo apresenta uma compreensão do Pleroma formado por pares (Pai & Sofia Superior; Cristo & Espírito Santo; Salvador & Sofia Inferior) e apresenta a salvação como a união, já neste mundo, da alma-feminina com o anjo-masculino procedente do Pleroma. Tal união, chamada de “Câmara Nupcial”, é apresentada como um Sacramento que vem a ser a elevação máxima dos demais Sacramentos (Batismo, Unção, Eucaristia e Redenção). A Igreja Gnóstica ensina que aqueles que penetraram nesse mistério alcançaram o Grau Gnóstico de Zacheita, tornando-se Mestres do Real Segredo. No Evangelho de Felipe, o Sacramento da Câmara Nupcial, cuja imagem perfaz uma espécie de matrimônio, representa a aquisição da completude já neste mundo, sendo, paradoxalmente, a Câmara propriamente dita o próprio Mundo Celestial.

73. O que é o Sacramento da Ordem?

A Ordem é o Sacramento pelo qual se confere o poder de consagrar, administrar a Eucaristia e exercer outras funções eclesiásticas. Por meio do Sacramento Solar, o Irmão (ou Irmã( é admitido ao Círculo Interior dos Barbelitas da E.G.A.L./E.GRAAL. É por essa razão que, tal como os Sacramentos do Batismo da Água e do Fogo, o Sacramento Solar é tido como um importante Sacramento de Iniciação. Empregando as noções do catarismo, o Sacramento da Ordem forma a antiga Convenza (Acordo), isto é, o voto tradicional de se respeitar a Glèisa dels Bones Omes (Igreja dos Bons Homens).

Compete aos Episcopi, que possuem a plenitude da Ordem, a conferência deste Sacramento em um Grande Santuário da Gnose. O Sacramento da Ordem, dividido no que chamamos de Ordens Menores e Maiores, é conferido segundo as regras da vocação e da necessidade. Costumeiramente, os membros da Ecclesia que não são vocacionados ao Serviço Religioso encontram outra forma de exercer o Serviço no seio da Cavalaria. É preferível que o Impetrante do Sacramento Solar seja um Perfecti da Igreja, mas esta é uma obrigatoriedade somente para as Ordens Maiores (para Diaconi, Sacerdotes e Episcopi).

Membros das Ordens Menores são genericamente designados como Fratres Minores (Irmãos Menores). As Ordens Menores são as seguintes: Clérigo, Porteiro, Leitor, Exorcista, Acólito e Subdiácono. Os Irmãos Menores garantem, através das particularidades de seus ofícios, a existência de condições materiais e espirituais específicas que são necessárias para o funcionamento dos Santuários. O percurso proposto pelas Ordens Menores também constitui diferentes estágios formativos importantes para os Irmãos que buscam expressar sua vocação religiosa.

Em virtude da força sacramental apostólica, os Fratres Minores estão no primeiro estágio do sétimo grau gnóstico (Barbelitas – Filhos do Senhor; Ministros da Serpente de Bronze ou da Estrela). São, portanto, Arautos da Ecclesia.

74. O que é a Unção Pleromática?

O Sacramento Saturnino, conhecido na E.G.A.L. como Unção Pleromática, é dedicado aos enfermos e realizado com o óleo apropriado. Ele confere uma Graça especial para o enfrentamento das dificuldades próprias de uma doença grave ou da própria velhice.

Por Roma e pela Ortodoxia, o Sacramento Saturnino recebe o nome de Extrema Unção (e mais modernamente, de Unção dos Enfermos) e é conhecida também como o “sagra viático”, porque é o recurso e o “alívio” que auxilia o enfermo a suportar com fortaleza e em estado de graça um momento de trânsito, especialmente o trânsito da Grande Iniciação.

Embora o Sacramento Saturnino tenha sido originariamente administrado somente “in articulo mortis”, atualmente o é sempre que necessário, como em caso de doenças graves e de preparação para cirurgias, podendo ser administrado mais de uma vez.

As condições para a boa recepção do Sacramento da Unção Pleromática são: 1º – Estar em estado de graça, mantendo a atitude receptiva adequada; 2º – Ter grande confiança em Deus e; 3º – Abandonar-se com amor e resignação ao Desígnio Divino.

A E.G.A.L. também mantém um Serviço de Cura próprio que, em tempo de necessidade, quando não há acesso disponível a um Sacerdos, pode ser conduzido por um Perfectus. Ele está disponível para doenças consideradas menos graves e pode ser solicitado sempre que necessário.

75. Por qual razão a E.G.A.L. adotou determinadas formas da nomenclatura cátara para os Sacramentos?

Ainda que a nossa cosmovisão se distancie bastante daquela do pessimismo cátaro, a E.G.A.L., como uma forma de homenagear os grandes mártires, adotou para si determinada nomenclatura cuja origem pode ser encontrada na Igreja Cátara. Como mencionado antes, a E.G.A.L. entende que há diversas formas de se compreender o Mistério e, uma vez que jamais ele será compreendido em toda a sua plenitude pelas mentes humanas, tais diferenças, ao invés de separarem as diversas expressões da Ecclesia, unem-na, refletindo a sua Unidade.

76. O que é o Sanctus Mysterium Sacerdos?

O Sacerdote se prepara para o exercício de seu ministério pela realização do Sanctus Mysterium Sacerdos, um importante rito teúrgico da Igreja do Graal que preparará seu corpo para o exercício sacramental.