Catecismo ECASI 0.2

Ecclesia Catholica Apostolica Sancti Iohannes – E.C.A. S✠ I✠

Catecismo da Seção Exotérica – 1ª etapa

A ECASI E O SEU CARISMA: O ESOTERISMO CRISTÃO

1) Se a Igreja é una, por que então foi criada a Igreja Católica Joanita?

O Espírito Santo, ao longo da história, tem suscitado carismas à Cristandade. A ECASI foi fundada, pois, em resposta a um carisma muito especial e muito particular suscitado pelo Espírito Santo aos seus Fundadores.

Ainda assim, esse carisma especial e particular que justifica a sua existência não faz da Igreja Católica Joanita uma comunidade separada, mas um membro plenamente integrada ao Corpo da Igreja, cuja Cabeça é o Cristo.

Afinal, ensina-nos o “Catecismo da Igreja Católica” que “o Espírito de Cristo serve-Se destas Igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação, cuja força vem da plenitude da graça e da verdade que Cristo confiou à Igreja Católica. Todos estes bens provêm de Cristo e a Ele conduzem e por si mesmos reclamam ‘a unidade católica’.”[1]

2) O que é carisma?

Carisma (do grego kharisma, χαρίσμα, favor, dom divino) é um dom especial do Espírito Santo concedido a alguém para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e em particular para a edificação da Igreja, a cujo Magistério compete o seu discernimento.[2]

Como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, “a Igreja é o Templo do Espírito Santo. O Espírito é como que a alma do Corpo Místico, princípio da sua vida, da unidade na diversidade e da riqueza dos seus dons e carismas.”[3]

3) Com isso, deve-se concluir que os carismas suscitados pelo Espírito Santo devem ser acolhidos pela Igreja?

Sem dúvida alguma. Nesta questão, recorreremos novamente ao “Catecismo da Igreja Católica”, pois nele está expressa, de maneira muito clara, a voz da Tradição:

“Na comunhão dos santos desenvolveram-se, ao longo da história das Igrejas, diversas espiritualidades. O carisma pessoal duma testemunha do amor de Deus pelos homens pode ter sido transmitido, como o espírito de Elias o foi a Eliseu e a João Baptista, para que haja discípulos que partilhem desse espírito. Uma espiritualidade está também na confluência doutras correntes, litúrgicas e teológicas, e testemunha a inculturação da fé num determinado meio humano e na respectiva história. As espiritualidades cristãs participam na tradição viva da oração e são guias indispensáveis para os fiéis. Refletem, na sua rica diversidade, a pura e única luz do Espírito Santo.”[4]

Justamente por isso, “os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja. De fato, eles são uma maravilhosa riqueza de graças para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo; desde que se trate de dons verdadeiramente procedentes do Espírito Santo e exercidos de modo plenamente conforme aos impulsos autênticos do mesmo Espírito, quer dizer, segundo a caridade, verdadeira medida dos carismas.”[5]

“O eterno Pai, que pelo libérrimo e insondável desígnio da sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens participação da vida divina», para a qual a todos convida em seu Filho: ‘E, aos que crêem em Cristo, decidiu convocá-los na santa Igreja’. Esta ‘família de Deus’ constituiu-se e realizou-se gradualmente ao longo das etapas da história humana, segundo as disposições do Pai: de fato, a Igreja ‘prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga Aliança, foi constituída no fim dos tempos, e manifestada pela efusão do Espírito Santo, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos’.”[6]

4) O Espírito Santo suscita seus carismas apenas aos sacerdotes ou também aos leigos?

Como ensina a Doutrina Católica, “na comunhão da Igreja, o Espírito Santo ‘distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as ordens’ para a edificação da Igreja. Ora, em cada um se manifestam os dons do Espírito, para o bem comum (1 Cor 12, 7).”[7] Dessa maneira, “os leigos também podem sentir-se ou serem chamados a colaborar com os pastores no serviço da comunidade eclesial, trabalhando pelo crescimento e vida da mesma, exercendo ministérios muito variados, segundo a graça e os carismas que ao Senhor aprouver comunicar-lhes.”[8]

Suscitados, pois, pela Graça do Espírito Santo, que sopra onde quer,[9] todo e qualquer cristão pode ser veículo dessa Graça particular, que chamamos de carisma.

5) O que é a Graça? Qual a relação dela com os carismas?

A Doutrina da Igreja ensina-nos que “a graça é, antes de tudo e principalmente, o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica. Mas também compreende os dons que o Espírito nos dá, para nos associar à sua obra, para nos tornar capazes de colaborar na salvação dos outros e no crescimento do corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. São as graças sacramentais, dons próprios dos diferentes sacramentos. São, além disso, as graças especiais, também chamadas «carismas», segundo o termo grego empregado por São Paulo e que significa favor, dom gratuito, benefício. Qualquer que seja o seu carácter, por vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas estão ordenados para a graça santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja. Estão ao serviço da caridade que edifica a Igreja.”[10]

Tudo podemos só e somente só por obra da Graça. Sem ela, sequer creríamos em Deus, dada a nossa natureza maculada, embora de origem divina, resultado do veneno da Queda Primordial. Por conseguinte, os carismas suscitados pela Graça do Espírito Santo revestem-se da mesma santidade e, com espírito de santidade, devem ser acolhidos pela Cristandade.

6) Qual é o carisma da Igreja Católica Joanita?

O carisma da Igreja Católica Joanita é a difusão do Esoterismo Cristão preservado no Exoterismo Cristão. O Exoterismo Cristão pode ser comparado a um belíssimo e finíssimo relicário no qual se encontra uma pérola de raríssima beleza, o Esoterismo Cristão. Noutras palavras, sem descuidar da Ortodoxia, molde necessário a estabelecer limites essencias a preservar a pureza e a integridade dessa joia inadjetivável, o magistério da Igreja Católica Joanita volta-se a evidenciar a essência esotérica do Mistério Cristão e, desse modo, transformar as almas, prestando-se ao papel salvífico precípuo da Revelação Cristã.

Pode-se dizer que, ao passo que o Exoterismo Cristão concerne à Igreja de Pedro, o Esoterismo Cristão diz respeito à Igreja de João.

7) Há então duas Igrejas, a Igreja de Pedro e a Igreja de João?

Esta é uma pergunta fundamental, cuja resposta inexata tem levado a uma interpretação simplista e distorcida do Mistério da Duas Igrejas. Afinal, se a Igreja é sempre Una, as duas Igrejas, de Pedro e de João, subsistem amalgamadas de maneira indissociável, em união hipostática, isto é, suas duas naturezas manifestam-se no mesmo ente.

Contudo, conforme a metáfora anteriormente proposta, poucos abriram esse relicário que oculta a pérola, fixando-se apenas no exoterismo. Essa foi justamente a razão pela qual o Santo Espírito suscitou o carisma da Igreja Católica Joanita. Ainda assim, há uma só Igreja e não duas. Se Pedro é a cabeça, João é o coração. Num corpo perfeitamente sadio, cabeça e coração funcionam em uníssono, um dependendo do outro (muito embora, em casos de morte cerebral, o coração possa continuar vivo quando o cérebro já se encontra morto, o que abre margem a se refletir sobre um outro mistério sutil…).

De todo modo, dada a precisão do seu magistério, a Igreja Católica Joanita se servirá do pensamento de Valentim Tomberg, um irmão em Cristo cuja obra foi fundamental para que o Santo Espírito suscitasse seu carisma especial e particular.

Diz-nos Tomberg, a propósito das Igrejas de Pedro e de João, que “na Alemanha, na França e em outros países muitos preconizam a doutrina chamada das ‘duas igrejas’, a igreja de Pedro e a igreja de João, ou das ‘duas épocas’, a época de Pedro e a época de João. Sabes também que essa doutrina ensina o fim – mais ou menos próximo – da igreja de Pedro, ou do papado, seu símbolo visível, a ser substituído pelo espírito de João, o discípulo amado do Mestre, aquele que, inclinado sobre seu peito, ouviu as batidas de seu coração. Assim a igreja ‘exotérica’ de Pedro daria lugar à igreja ‘esotérica de João’, que seria a da liberdade perfeita.

“Ora, João, que se submeteu voluntariamente a Pedro como chefe e príncipe dos apóstolos, não foi seu sucessor depois de sua morte, embora tenha sobrevivido a ele por muitos anos. O discípulo amado, que ouviu as batidas do coração do Mestre, é e será sempre o representante e o guardião desse coração – e como tal não foi, não é e jamais será o chefe ou a cabeça da Igreja. Porque como o coração não é chamado a substituir a cabeça, do mesmo modo João não é chamado a suceder a Pedro. O coração conserva bem a vida e a alma, mas é a cabeça que toma as decisões e que dirige e escolhe os meios para a execução das tarefas do organismo todo – cabeça, coração e membros.

A missão de João consiste em conservar a vida e a alma da Igreja – em viver até a segunda vinda do Senhor. Por isso João nunca pretendeu e nunca pretenderá ter a função diretiva do corpo da Igreja. Ele vivifica esse corpo, mas não dirige suas ações.”[11]

8) Há evidências nas Escrituras de que o Cristianismo conteria um aspecto esotérico?

Há inúmeras! Jesus muitas vezes se expressava em parábolas, cujo significado somente explicitava a seus discípulos. Por exemplo, temos as misteriosas palavras do Senhor no Evangelho segundo São Mateus (Mt 13:11-17): “porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não. Ao que tem se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem, será tirado até mesmo o que tem. Eis por que lhes falo em parábolas: para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam. Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis, porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e eu os sare (Is 6,9s). Mas, quanto a vós, bem-aventurados os vossos olhos, porque veem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem! Eu vos declaro, em verdade: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não ouviram”

Nos Evangelhos segundo São Marcos e São Lucas, respectivamente, essas palavras se repetem: “a vós é revelado o mistério do Reino de Deus, mas aos que são de fora tudo se lhes propõe em parábolas” (Mc 4:11) e “a vós é concedido conhecer os mistérios do Reino de Deus, mas aos outros se lhes fala por parábolas; de forma que vendo não vejam, e ouvindo não entendam” (Lc 8:10).

As epístolas de São Paulo são igualmente pródigas de menções ao Esoterismo confiado a poucos dentre os cristão, não porque a maioria não merecesse tais ensinamentos, mas pelo fato de ainda não estar preparada para os absorver: “não quero, irmãos, que ignoreis este mistério, para que não vos gabeis de vossa sabedoria: esta cegueira de uma parte de Israel só durará até que haja entrado a totalidade dos pagãos” (Rm 11:25); “àquele que é poderoso para vos confirmar, segundo o meu Evangelho, na pregação de Jesus Cristo – conforme a revelação do mis­tério, guardado em segredo durante séculos” (Rm 16:25); “pregamos a sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para a nossa glória” (1 Cor 2:7); “que os homens nos conside­rem, pois, como simples ope­rários de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1 Cor 4:1); “mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada” (1 Cor 13:2); “foi por revelação que me foi manifestado o mistério que acabo de esboçar; “lendo-me, podereis entender a compreensão que me foi concedida do mistério cristão” (Ef 3: 3-4); “esse mistério é grande, quero dizer, com referên­cia a Cristo e à Igreja” (Ef 5:32); “mistério este que esteve escondido desde a origem às gerações (passadas), mas que agora foi manifestado aos seus santos, a estes quis Deus dar a conhecer a riqueza e glória deste mistério entre os gentios: Cristo em vós, esperança da glória!” (Col 1:26-27); “Tudo sofro para que os seus corações sejam reconfortados e que, es­treitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência, para conhecerem o mistério de Deus, isto é, Cristo,” (Col 2:2).

Merece destaque, dentre as palavras de São Paulo, o seguinte trecho da sua Epístola aos Hebreus, onde o Apóstolo deixa muito claro que tinha um ensinamento aberto para as massas e um ensinamento reservado àqueles preparados para recebê-lo: “ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus; e vos tornastes tais, que precisais de leite em vez de alimento sólido! Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma doutrina profunda, porque é ainda criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal” (HB 5:12-14).

9) Ao longo da história, o Esoterismo Cristão foi ensinado e perpetuado ou se manteve oculto, fechado, até que a Igreja Católica Joanita fosse fundada e viesse a revelá-lo?

De forma alguma. O Esoterismo Cristão sempre se manteve vivo e presente na vida da Igreja, embora não tão explicitamente quanto o seu aspecto Exotérico. Para mencionarmos apenas alguns místicos cristãos que perpetuaram essa herança esotérica, podemos citar Orígenes, Clemente de Alexandria, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Bernardo de Clairvaux, Santa Hidegarda de Bingen, São João da Cruz, Santa Teresa d’Ávila, São Luis Maria Grignion de Montfort, Beata Ana Catarina Emmerich. Há, ainda, alguns verdadeiros esoteristas cristãis que não foram reconhecidos, pela Igreja Católica Romana, como estando em plena comunhão com ela, como Mestre Eckart, Jacob Boehme e Jan van Ruysbroeck, mas por nós são considerados igualmente santos.

10) A existência de uma face exotérica e outra face esotérica é exclusiva do Cristianismo?

Não. Essas duas faces, como os lados de uma mesma moeda, são inerentes a todas as religiões reveladas.

O Hinduísmo tem seus aspectos exotéricos, suas leis e rituais religiosos, e seu aspecto iniciático ou místico, perpetuado, por exemplo, pelo Yoga e pelas escolas tântricas, num riquíssimo veio esotérico e metafísico que é denominado, por alguns, como Brahmavidya, Sabedoria Divina.

O Budismo conta com aspectos exotéricos e esotéricos, estes últimos preservados nas escolas Mahayana e, sobretudo, Vajrayana. Particularmente no que concerne ao Budismo, o seu aspecto exotérico tem sido chamado, algumas vezes, de “Doutrina do Olho”, e seu aspecto esotérico, de “Doutrina do Coração”. Helena Petrovna Blavatsky, em seu clássico tratado de Budismo Esotérico “A Voz do Silêncio”, dá o seguinte conselho ao discípulo da Sabedoria Eterna: “Aprende contudo a separar o conhecimento mental da sabedoria da Alma, a doutrina do ‘Olho’ da doutrina do ‘Coração’.”

No Judaísmo, há a religião ortodoxa e a sua dimensão mística e esotérica, a Cabala, assim como no Islamismo há também a Shari’ia, isto é, a religião e a lei exotéricas, ao passo que o Sufismo preserva e difunde o seu aspecto esotérico.

11) Como se relaciona o Esoterismo Cristão a São João?

São João Batista anunciou a vinda do Verbo e São João Evangelista é o guardião do Verbo até a Sua segunda vinda.

São João Evangelista, particularmente, era o discípulo que Jesus amava[12] e, na última ceia, manteve-se com o rosto encostado no peito de Jesus.[13] Por fim, na cruz, Jesus entregou Maria Santíssima a São João.[14]

Ora, ao se dizer que São João era o discípulo que Jesus mais amava, atribui-se grande intimidade à relação entre ambos, sendo de se pressupor que ao discípulo mais amado, o Senhor revelou mistérios não tão livremente compartilhados com os demais. Além disso, ao se recostar no peito de Jesus, São João ouviu as batidas do Seu coração, sendo que o coração sempre foi o símbolo por excelência do conhecimento esotérico (aliás, o coração físico também está guardado no centro do corpo, protegido pelos ossos que formam a caixa torácica, numa maravilhosa alusão anatômica e simbólica da relação do esoterismo e do exoterismo). Convém notar, ainda, que, na “Ladainha do Sagrado Coração de Jesus” invoca-se “Cor Jesu, Rex et centrum omnium cordium” (“Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações”). Finalmente, o Senhor confiou a São João a Sua mãe, Nossa Senhora, igualada, no Apocalipse, à própria Igreja Católica[15] e à Arca da Aliança do Antigo Testamento.[16]

O coração de Jesus, o aspecto velado e esotérico da Sua mensagem, foi guardado no relicário que era o ventre de Maria durante a gestação, mas ela é novamente identificada a um relicário ao ser associada à Arca da Aliança. Assim, não somente João era íntimo de Jesus, deitou no seu peito, ouvindo as batidas do Seu coração, isto é, os seus ensinamentos esotéricos, como a João foi confiado o relicário que guardou o Sagrado Coração de Jesus, isto é, seus mistérios, e que era ela mesma a Arca da Aliança: Maria.

Fica evidente, pois, que Jesus entregou a João a essência mística da Sua mensagem, ao passo que entregou a organização e o governo da Sua Igreja a Pedro. Pedra e Coração, Exoterismo e Esoterismo.

12) Por que a Igreja Católica Joanita sempre se refere ao Esoterismo Cristão e não ao Cristianismo Esotérico? Não seriam expressões sinôminas, que expressam a mesma ideia?

Porque a Igreja Católica Joanita perpetua o Esoterismo Cristão, que não é exatamente o mesmo que Cristianismo Esotérico. Embora de um ponto de vista estritamente linguístico ambas as expressão, de fato, expressem a mesma ideia, fato é que Cristianismo Esotérico tornou-se expressão consagrada no seio da Sociedade Teosófica moderna, isto é, pós-falecimento de Blavatsky. Ademais, posteriormente, essa mesma expressão vem sendo usada por toda a sorte de doutrinas da Nova Era que não necessariamente ostentam uma natureza tradicional.

Naquele momento histórico da Sociedade Teosófica, Sua Excelência Reverendíssima Charles Webster Leadbeater e Annie Besant acreditavam que o jovem Jiddu Krishnamurti seria o novo Messias e manifestaria a segunda vinda do Cristo. Uma vez que os cristãos tradicionais (assim como os muçulmanos) sempre creram que Jesus Cristo retornará no fim dos tempos, seria impossível que Krishnamurti fosse o novo Cristo, sendo necessário separar-se as figuras de Jesus e do Cristo. Para tanto, Sua Excelência Reverendíssima Charles Webster Leadbeater tomou por base o Nestorianismo, uma heresia propagada no século V por Nestório, Bispo de Constantinopla, à qual nenhuma das igrejas de então aderiu, que sustentava que Jesus, tão somente humano, fora tomado por Deus Pai no momento do seu batismo no Rio Jordão. A adaptação teosófica dessa ideia consistiu em se entender Jesus como um homem, um alto iniciado, que, na ocasião do batismo, foi tomado completamente pelo Cristo, visto não como Deus, mas como um ser de altíssima evolução espiritual chamado Maitreya. Essa visão produziu frutos, embora um pouco diferentes, no pensamento de Rudolf Steiner e de Édouard Schuré por exemplo

A Igreja Católica Joanita, contudo, não adota essa visão. Afinal, sendo ela depositária do Esoterismo Cristão guardado no seio do Exoterismo Cristão, ela proclama que Jesus Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus pelo mistério da união hipostática, isto é, em Jesus convivem, perfeita e indissocialmente, o homem e Deus, assim como ambas as vontades, a vontade humana e a vontade divina. Aliás, não fosse assim, não poderíamos proclamar Maria Santíssima Theotokos (Portadora de Deus ou Mãe de Deus), tampouco Sede de Sabedoria (Sedes Sapientiae), pois ela teria sido tão somente a mãe de um ser humano, por mais avantajada espiritualmente fosse a sua alma.

Acresça-se que a assim chamada Escola Francesa da Tradição Esotérica Ocidental costuma partilhar desse mesmo entendimento tradicional, como se pode constatar no “Tratado das Duas Naturezas” de Jean-Baptiste Willermoz.

13) Para se estar unido ao carisma da Igreja Católica Joanita, é essencial crer na união hipostática entre o homem e Deus na pessoa de Jesus Cristo?

Não. A Igreja Católica Joanita conta com pouquíssimos dogmas de fé e esse definitivamente não é um deles. O relacionamento de cada ser humano com o Cristo é único e íntimo, assim como é única e íntima a interpretação que cada qual dá a esse Mistério Insondável.

14) De que maneira a Igreja Católica Joanita ensina o Esoterismo Cristão àqueles a ela vinculados num mesmo carisma?

Mediante um ensinamento sempre progressivo, partindo de uma etapa aberta, exotérica, e aprofundando-a em etapas semiabertas, mesotéricas e etapas reservadas, esotéricas. Ainda assim, a sua tarefa é mostrar o Esoterismo Cristão perfeitamente oculto, em sua inteireza, no âmago das Sagradas Escrituras e no pensamento dos santos e místicos cristãos, ocidetais e orientais, que floresceram na Ecclesia ao longo da Sua história.


[1] § 819.

[2] Cf. “Compêndio do Catecismo da Igreja Católica”, § 160.

[3] § 809.

[4] § 2684.

[5] § 800.

[6] § 759.

[7] § 951.

[8] § 910.

[9] Jo 3:8.

[10] § 2003

[11] Meditações sobre os Arcanos Maiores do Tarô, 1ª edição, São Paulo, Paulus, 1989, pp. 23/24.

[12] Jo 13:23.

[13] Jo 12:23.

[14] Jo 19:26.

[15] Apoc 12.

[16] Comparando-se 2Sm 6:2 e Lc 1:39.