Catecismo ECASI 0.1

Ecclesia Catholica Apostolica Sancti Iohannes – E.C.A. S✠ I✠

Catecismo da Seção Exotérica – 1ª etapa

A ECASI EM PERGUNTAS E RESPOSTAS

1) O que significa a sigla ECASI?

Ecclesia Catholica Apostolica Sancti Iohannes, cuja tradução para o português é Igreja Católica Apostólica de São João. Contudo, informalmente, ela costuma ser chamada de Igreja Católica Joanita.

2) O que é a Igreja Católica Joanita?

É uma igreja autocéfala erigida, em 2017, por seus dois Patriarcas e Arcebispos fundadores. Muito embora esses Patriarcas e Arcebispos fundadores detenham inúmeras sucessões apostólicas válidas e regulares, sendo a ECASI, assim, continuadora da Sucessão da Catédra Apostólica de São Pedro e da Cátedra Apostólica de Antioquia da Síria, ela se faz continuadora do carisma da Igreja Joanita dos Cristãos Primitivos e da Igreja Vétero-Católica, assim como da principal derivação do vétero-catolicismo, a Igreja Católica Liberal.

3) O que é uma Igreja Autocéfala?

Em poucas palavras, é uma igreja independente, embora erigida segundo rigoroso respeito à Tradição dos Primeiros Padres e às normas de Direito Canônico.

Uma igreja autocéfala não se reporta a nenhuma autoridade superior à própria hierarquia estabelecida em seu seio. A ECASI herdou essa organização das igrejas ortodoxas orientais.

Nos primeiros séculos, a condição de autocefalia de uma igreja foi promulgada por cânones dos primeiros concílios ecumênicos. Isso se refere ao desenvolvimento do modelo de pentarquia, no qual a organização eclesiástica deveria ser governada por cinco patriarcas, cada qual vinculado a uma vereda da tradição episcopal existente no Império Romano: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Posteriormente, em 685, a Igreja do Líbano, depositária de relevante tradição que diretamente influenciou ramos específicos do esoterismo cristão, também recebeu a autocefalia. Ela constituía parte da Igreja de Antioquia, da mesma forma que a Igreja de Chipre, que também recebeu a autocefalia. Destaca-se que um passo a menos da autocefalia é a autonomia. Nesse último caso, o Bispo de mais alto escalão de uma igreja, ainda que conserve a auto-governança de sua Igreja, é aprovado e ordenado pelo primaz da Igreja-mãe.

A respeito de sua organização, a ECASI é autocéfala, tendo recebido sua autocefalia de um patriarcado tradicional e regularmente estabelecido.  Por sua vez, cada Província é autônoma (não autocéfala). A “Província de Nossa Senhora de Rocamadour” é a Província Primaz da ECASI e é dirigida pelo Patriarca Primus e Arcebispo Primaz. Tratando-se da Província Primaz, ela jamais é dissolvida, sendo herdada pelo Patriarca Primus Adjutor e Arcebispo Primaz Adjutor no momento da morte do Patriarca Primus e Arcebispo Primaz que o antecedeu ou na hipótese da sua renúncia ao ofício. Os Pontífices da ECASI formam o “Grande Colégio Patriarcal”, a “Assembleia dos Patriarcas e Arcebispos”, único e autêntico órgão dirigente das Arquidioceses, Dioceses, Paróquias e Oratórios. Com exceção da Província Primaz, as Províncias, Arquidioceses, Dioceses, Paróquias e Oratórios permanecem ativas apenas enquanto seus respectivos Pontífices, Arcebispos, Bispos e Sacerdotes permanecem vivos. Quando um Pontífice morre, sua Província é diluída, cabendo aos Patriarca Primus/Arcebispo Primaz e Patriarca Primus Adjutor/Arcebispo Primaz Adjutor a prerrogativa de instaurar novas Províncias. Torna-se evidente, portanto, a razão de serem consideradas autônomas, e não autocéfalas.

4) A Igreja Católica Joanita, então, opõe-se à Igreja Católica Apostólica Romana e, por conseguinte, ao Papa?

Não, de forma alguma!

A Ecclesia é a Corpo do Cristo, que é a sua Cabeça, a Jerusalém Celeste[1] e a Esposa Imaculada do Cordeiro.[2] Não há duas ou mais igrejas, mas uma só Igreja, exatamente como declarado no Credo: “Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica” (Credo in unam sanctam catholicam et apostolican Ecclesiam).

5) Essa ideia, contudo, não seria absolutamente contrária à ortodoxia dogmática da Igreja Católica Apostólica Romana?

Não exatamente. Sobretudo, não depois de São João Paulo II ter promulgado o “Catecismo da Igreja Católica” como reflexo necessário do carisma que o Espírito Santo derramou na Ecclesia por ocasião do Concílio Vaticano II.

No § 791 do Catecismo da Igreja Católica, lemos que “a unidade do Corpo não anula a diversidade dos membros. Na edificação do Corpo de Cristo, existe diversidade de membros e funções. É o mesmo Espírito que distribui os seus vários dons, segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios para utilidade da Igreja. A unidade do Corpo Místico produz e estimula a caridade entre os fiéis: ‘Daí que, se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se algum membro recebe honras, todos se alegram’. Em suma, a unidade do Corpo Místico triunfa sobre todas as divisões humanas: ‘Todos vós que fostes batizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; porque todos vós sois um só, em Cristo Jesus.”[3]

6) Mas como pode a Igreja, tão fragmentada, ser considerada una?

É São Bernardo de Clairvaux, nosso padroeiro, quem nos explica:

“Cristo, mediador único, constitui e continuamente sustenta sobre a terra, como um todo visível, a sua Igreja santa, comunidade de fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a verdade e a graça.  É próprio da Igreja ser simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina; mas de tal forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos.”[4]

7) Poderia dar o exemplo de algum outro santo cujo ensino seja idêntico a este de São Bernardo?

Certamente! São Clemente de Alexandria, a propósito da uniciddade da Igreja, assim se pronunciou:

“Que admirável mistério! Há um só Pai do universo, um só Logos do universo e também um só Espírito Santo, idêntico em toda a parte; e há também uma só mãe Virgem, à qual me apraz chamar Igreja.”[5]

8) Se é assim, como devemos entender a Igreja Católica Joanita no seio da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica?

Ela é uma expressão particular do Mistério da Ecclesia, mas unida plenamente a esse mesmo Mistério, que é o Mistério do Cristo e de sua Esposa. O Cristo e a Igreja são o Cristo integral, pleno, absoluto (Christus totus). A Igreja é una com o Cristo numa união hipostática, isto é, que corresponde misteriosamente a uma única pessoa, embora formada por duas naturezas distintas.

Santo Agostinho assim se exprimia a respeito desse Sacrossanto Mistério:

“Eis o Cristo total, Cabeça e Corpo, um só, formado de muitos (…). Quer seja a Cabeça que fale, quer sejam os membros, é Cristo que fala: fala desempenhando o papel de Cabeça (ex persona capitis), ou, então, desempenhando o papel do Corpo (ex persona corporis). Conforme ao que está escrito: ‘Serão os dois uma só carne. É esse um grande mistério; digo-o em relação a Cristo e à Igreja’ (Ef 5, 31-32). E o próprio Senhor diz no Evangelho: ‘Já não são dois, mas uma só carne’ (Mt 19, 6). Como vedes, temos, de algum modo, duas pessoas diferentes; no entanto, tornam-se uma só na união esponsal (…) ‘Diz-se ‘Esposo’ enquanto Cabeça e ‘Esposa’ enquanto Corpo».[6]

9) Mas se a Igreja é una, por que há essa diversidade de expressões particulares do Mistério da Ecclesia?

Em resposta, recorramos uma vez mais ao “Catecismo da Igreja Católica (Romana), a fim de evidenciar o quanto a Igreja Católica Joanita é concorde com a ortodoxia ensinada pelos Primeiros Padres:

“Desde a origem, no entanto, esta Igreja apresenta-se com uma grande diversidade, proveniente ao mesmo tempo da variedade dos dons de Deus e da multiplicidade das pessoas que os recebem. Na unidade do povo de Deus, juntam-se as diversidades dos povos e das culturas. Entre os membros da Igreja existe uma diversidade de dons, de cargos, de condições e de modos de vida. «No seio da comunhão da Igreja existem legitimamente Igrejas particulares, que gozam das suas tradições próprias» (271). A grande riqueza desta diversidade não se opõe à unidade da Igreja. No entanto, o pecado e o peso das suas consequências ameaçam constantemente o dom da unidade. Também o Apóstolo se viu na necessidade de exortar a que se guardasse «a unidade do Espírito pelo vínculo da paz» (Ef 4, 3).” [7]

“A Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades locais de fiéis que, unidas aos seus pastores, recebem, também elas, no Novo Testamento, o nome de Igrejas […]. Nelas, os fiéis são reunidos pela pregação do Evangelho de Cristo e é celebrado o mistério da Ceia do Senhor […]. Nestas comunidades, ainda que muitas vezes pequenas e pobres ou dispersas, está presente Cristo, por cujo poder se constitui a Igreja una, santa, católica e apostólica.”[8]

9) Isso quer dizer que a Igreja Católica Romana reconhece como expressões particulares da Igreja Una as igrejas autocéfalas?

Muito embora alguns de seus prelados ainda tenham uma compreensão estreita desse Mistério, é a própria Igreja Católica Romana quem o diz em seu Catecismo oficial:

“As Igrejas particulares são plenamente católicas pela comunhão com uma de entre elas: a Igreja Romana, ‘que preside à caridade’. ‘Com esta Igreja, mais excelente por causa da sua origem, deve necessariamente estar de acordo toda a Igreja, isto é, os fiéis de toda a parte’. ‘Desde que o Verbo Encarnado desceu até nós, todas as Igrejas cristãs de todo o mundo tiveram e têm a grande Igreja que vive aqui (em Roma) como única base e fundamento, porque, segundo as próprias promessas do Salvador, as portas do inferno nunca prevalecerão sobre ela’.”[9]

10) Ainda assim, esse trecho do Catecismo Igreja Católica Romana afirma que ela é “mais excelente por causa da sua origem”. Isso não seria contrário a essa ideia de unidade da Ecclesia?

Não. Por Igreja Romana, aqui, se quer distinguir a Igreja confiada por Jesus a São Pedro, primeiro Bispo de Roma: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (tu es Petrus et super hanc petram ædificabo ecclesiam meam et portæ inferi non prævalebunt adversum eam).[10]

Isso quer dizer que a Igreja “mais excelente por causa da sua origem” é aquela herdeira da Sucessão Apostólica de São Pedro. Ora, tanto a Igreja Católica Apostólica Romana, quanto a Igreja Católica Apostólica Joanita são herdeiras dessa mesma sucessão da Cátedra de São Pedro.

É o que se encontra muito claramente expresso no § 862 do “Catecismo da Igreja Católica”:

“Do mesmo modo que o encargo confiado pelo Senhor singularmente a Pedro, o primeiro dos Apóstolos, e destinado a ser transmitido aos seus sucessores, é um múnus permanente, assim também é permanente o múnus confiado aos Apóstolos de serem pastores da Igreja, múnus cuja perenidade a ordem sagrada dos bispos deve garantir». Por isso, a Igreja ensina que, «em virtude da sua instituição divina, os bispos sucedem aos Apóstolos como pastores da Igreja, de modo que quem os ouve, ouve a Cristo e quem os despreza, despreza a Cristo e Aquele que enviou Cristo.”

11) Se a Igreja herdeira da Sucessão dos Apóstolos é “mais excelente por causa da sua origem”, isso quer dizer que as igrejas e comunidades cristãs não detentoras dessa herança apostólica seriam menos excelentes?

Do ponto de vista sobrenatural, sim. Isso, contudo, não quer dizer que elas sejam piores ou inferiores às expressões particulares da Ecclesia que detêm a Sucessão Apostólica.

O que queremos dizer é que elas contam com menos (ou com nenhum) sinais visíveis da Graça de Deus, isto é, seus Sacramentos, que só podem ser administrados por sacerdotes igualmente detentores da Sucessão Apostólica. Afinal, “os sete sacramentos são os sinais e os instrumentos pelos quais o Espírito Santo derrama a graça de Cristo, que é a Cabeça, na Igreja que é o seu Corpo. A Igreja possui, pois, e comunica a graça invisível que significa: e é neste sentido analógico que é chamada ‘sacramento’.”[11]

Novamente, recorramos ao “Catecismo da Igreja Católica” para bem precisar o papel dessas outras expressões particulares da Ecclesia, que também a integram e a compõem:

“Todos os homens são chamados (…) à unidade católica do povo de Deus; de vários modos a ela pertencem, ou para ela estão ordenados, tanto os fiéis católicos como os outros que também acreditam em Cristo e, finalmente, todos os homens sem excepção, que a graça de Deus chama à salvação.”[12]

12) Se o sucessor direto de Jesus foi São Pedro e se os Papas são seus sucessores, a Igreja Católica Joanita submete-se ao Papa?

Não. De acordo com a Tradição das Igreja Orientais, autocéfalas por natureza, o Papa, o Bispo de Roma, é primus inter pares, primeiro entre iguais. Isso quer dizer que, embora mereça máximo respeito de toda a Cristandade, por ser o sucessor de Pedro no governo e no magistério da Igreja, não estamos obrigados a obedecê-lo incontinenti.

Ainda assim, ouvimos com todo respeito e piedade seu Magistério Pastoral e a ele nos vinculamos em Cristo, a menos que seus pronunciamentos divirjam dos cânones da Igreja Católica Joanita. Ainda assim, nessa hipótese, sempre se tratará tão somente de uma divergência fraterna, em espírito cristão, que em nada afeta o nosso respeito pelo seu Ofício Pastoral.


[1] Gl 4,26

[2] Ap 19,7; 21,2.9; 22,17

[3] Gl 3, 27-28.

[4] Canticum Sermo 27,7,14.

[5] Paedagogus, 1,6.

[6] Enarratio in Psalmum 74,4.

[7] § 814.

[8] § 832.

[9] § 834.

[10] Mt 16:19

[11] Catecismo da Igreja Católica, § 774.

[12] § 836.