Regente do Ano

Todo ano temos a velha discussão sobre qual planeta é o regente do ano. Geralmente o que se vê por aí é utilizar a ordem caldaica para regência dos planetas. Só que essa ideia foi popularizada aqui no Brasil pelo Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, no início do século passado, através de seu almanaque astrológico anual, sendo de criação própria do CECP. Na verdade, existem algumas formas de se calcular o regente, ficando a cargo do astrólogo escolher a que mais é funcional para ele.

Já vi alguns utilizarem o Almuten do Ascendente como o regente do ano, mas os astrólogos antigos observavam várias regras para isto.

Segundo Masha’Allah, existem várias etapas necessárias para o cálculo. Bonatti, seguindo Abu Ma’shar, tem uma maneira parecida com Masha’Allah, com algumas distinções.

O Regente do ano será o Regente do Ascendente se este estiver livre de combustão, direto, nem em graus finais nem em graus inicias. Se ele não for, Bonatti pede para observar o Almuten do Ascendente se não estiver impedido. Se ainda não houver planeta elegível, observa-se a exaltação do Ascendente, considerando as mesmas regras que o regente do Ascendente. Bonatti acrescenta a disto que para o planeta que se exalta no Ascendente ser ele precisa estar no grau exato de exaltação. Se não houver, segundo Bonatti, observa-se os luminares. Já para Masha’Allah, não se observaria luminares, observaria a sequência das dignidades do signo do Ascendente (triplicidade e termo), assim como o regente da hora planetária. Ele será se estiver na casa I ou se fizer uma conjunção aplciativa ao Meio do Céu. Somente após isto é que ele observaria os luminares. Se se chegou a observar Sol ou Lua, observa-se qual deles está mais poderoso por signo e por casa.

O planeta mais forte em sua casa e com mais testemunhos também será incluso na análise, podendo ser mais importante que o próprio regente, para Masha’Allah. Para ele e Bonatti, se o regente do ano recebe aspecto de um planeta domiciliado, ele também será levado em conta na análise do regente do ano. Planetas que fazem aspecto com o regente acrescentam a ele a sua natureza.

Para Ramesey, em sua obra “Astrologia Munda”, ao se calcular o mapa do Ingresso Solar em Áries encontramos qual planeta está angular (casas I, IV, VII e X). Ele será o Senhor do Ano. Se houver muitos planeta angulares, precisará ser visto o regente do dia e da hora, se ele é regente do termo de um destes planetas ou o Sol se o mapa for diurno ou a Lua se o mapa for noturno. É preciso julgar de acordo com dignidades e debilidades. Se não houver planeta angular, é preciso ver os regentes do dia e da hora, se estão dignos e verificar qual deles é mais forte. Planetas unidos a ele também se unem em significado. Se ainda não houver planeta elegível, vai se verificando por força das casas ou mesmo por dignidade essencial até eleger um. Ele também observa o que outros astrólogos antigos falam em suas considerações.

Existem várias formas de se calcular, não uma única, afinal a Astrologia é uma arte também, importando ao final a assertividade do que se prevê.

Para 2024, se formos considerar o Almuten do Ascendente, o regente para o Brasil seria Marte. Lembrando também que o regente do ano é calculado por país e nunca para o mundo inteiro ao mesmo tempo. No caso do Brasil, é calculado para Brasília.

Se formos considerar as regras árabes, Saturno, regente do Ascendente, está livre e desimpedido, podendo ser considerado Regente do Ano. Como Saturno aspecta Vênus domiciliada em Peixes e ele mesmo está sendo disposto por ela, Vênus também deve ser considerada. Júpiter também acrescentará a sua natureza por conta do sêxtil que forma a Saturno.

Nas regras de Ramesey, o Sol e Mercúrio são planetas angulares. Por um lado, o Sol está exaltado. Por outro lado, Mercúrio está nos seus próprios termos, o mapa ocorre na sua hora planetária e ele está em uma condição de evidência chamado ocaso heliacal, quando aparece no horizonte oeste pouco depois de o Sol se por, o que dá ainda mais relevância a ele.

A título de ilustração, segue as considerações gerais dele sobre estes regentes anuais.

“Se em qualquer Revolução você encontrar o Sol como Senhor do Ano e bem digno, o Rei e os nobres excederão e aumentarão em glória e renome; milho, animais e pássaros serão abundantes, o povo geralmente próspero e bem-sucedido, e todas as coisas em boas condições, das quais o Sol tem algum significado; se fraco, julgue o contrário”.

“Mercúrio, quando é o Senhor do Ano e forte, significa que mercadores, comerciantes e todos aqueles que se dedicam ao aprendizado, às artes e às ciências terão um ano de sucesso. Se fraco, julgue o contrário”.

Este ano, vi posts com outras formas de se encontrar o Regente do Ano, seja chegando a estes resultados ou mesmo a outros. Há a clássica “é Saturno por conta da ordem caldaica” (ano passado foi Lua, este ano é Saturno, o próximo é Júpiter), que já falei sobre ela no post anterior. Há também quem verifique quem tem mais dignidade essencial no mapa, chegando à Vênus. Há inclusive quem considerou Netuno angular como regente, embora eu particularmente não utilizaria um geracional.

O Regente indica nuances gerais, que podem ou não ser confirmadas (ou, ainda, especificadas) por meio de outros testemunhos no mapa de Ingresso Solar em Áries. Quando um mapa de Ingresso Solar em Áries tem um Ascendente cardinal, será preciso puxar uma carta para cada estação do ano. Portanto, este ano terá quatro mapas a serem analisados, cada um com seus regentes próprios. Além disto, outras técnicas de Astrologia Mundial precisam ser utilizadas para maior especificidade das previsões.

Em suma, a depender da técnica há planetas distintos elegíveis para Regente do Ano para o Brasil – Sol e Mercúrio, Marte, Saturno e mesmo a Vênus. De todo o modo, como o Ascendente é um signo cardinal, precisamos levantar uma carta para cada início de estação. Lembrando que Saturno é considerado pelas regras árabes e não pela ordem caldaica como se vê por aí.

Considerando Saturno como Regente do Ano, para dar uma diferenciada de outros posts da internet e para fins didáticos para verificarmos se há as mesmas indicações que com outros regentes, vemos que ele está peregrino, em Peixes, numa casa cadente (casa 3). Há ênfase para os seguintes temas nos próximos meses: área de dados, internet, comunicação, trânsitos, transportes, estradas e educação básica. Está conjunto à Vênus em Peixes, que está exaltada. Por mais que Saturno imponha limites e travas, ele está na exaltação da Vênus e recebendo uma conjunção aplicativa dela. A Vênus espalha a sua virtude para Saturno. Podemos considerar que através dos obstáculos e limites podemos encontrar novas perspectivas e mesmo soluções. “Há males que vêm para o bem”.

Saturno rege o povo (casa 1) e as finanças (casa 2). Não esperaria grandes mudanças nestas áreas, há progresso, mas é lento. Também não esperaria um apagão de vários dias. Até poderia ver problemas nestas áreas (não podemos esquecer da contra-antísica entre Mercúrio em Áries na casa 4 e Saturno), mas nada tão grave.

Há sêxtis entre Vênus e Saturno a Júpiter em Touro na casa 5, chamando a atenção para os temas desta casa – criatividade, imaginação, jogos (físicos e eletrônicos), entretenimento, esportes e diversão. Vênus e Júpiter inclusive fazem recepção mútua. Pode haver crescimento de natalidade ou mesmo benefícios e melhorias para crianças e jovens. Celebridades da mídia e pessoas em destaques nos temas dessas casas, 3 e 5, também ganham mais holofotes. Júpiter também está conjunto a uma estrela fixa, Almach, de natureza de Vênus, conferindo eminência e honra para as pessoas em destaques nestas áreas.

Não posso esquecer que Júpiter se aproxima de uma conjunção a Urano em Touro. Estes planetas ficam conjuntos a casa 13 anos em média. Isto ocorrerá próximo ao eclipse solar de 8 de abril. Revoluções, inovações e progressos são estimulados a se concretizarem. Inteligências artificiais podem continuar em pauta. Também estimula tensões e riscos, assim como revoltas por conta de condições opressivas e desgastantes. Por outro lado, haverá o ingresso de Júpiter em Gêmeos mais à frente, trazendo dispersão, desorganização e inconsistências na comunicação. Júpiter é regente da casa 3 (o que reforça a ideia de problemas envolvendo os assuntos da casa 3) e também da casa 12 (sistema prisional, criminosos escondidos).

O Sol está situado na casa 4 (terra, território, recursos naturais, coisas escondidas, povos originários), exaltado em Áries. Os temas desta casa também estarão em evidência.

A análise continuaria com conteúdos de teor político, já que a Astrologia Mundial versa sobre esta temática, mas evitarei falar disto por aqui. Mas, em resumo, independentemente da forma que você usar para escolher o regente, é um mapa complexo, que fala de problemas, mas que também fala de progresso, lento, mas existente.


Comentários

Uma resposta para “Regente do Ano”

  1. Henrique

    Uau! Muito interessante ver e aprender essas perspectivas diferentes! Obrigado!

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