Se você ainda não viu as primeiras partes, veja-as antes de continuar. Segue os links para elas abaixo:
Nesta parte 5 chegamos ao período de Bricaud na Igreja Gnóstica. Aqui tivemos um cisma. A Conferência Internacional que ocorreu em Paris estava ainda com os ares do que ocorreu.
Jean Bricaud
Jean Bricaud estudara para ser sacerdote em um seminário católico devido ao desejo de seus pais. Aos 16 anos, deixou o seminário e começou a trabalhar como funcionário do Crédit Lyonnais. Em Lyon, começou a visitar Elie Alta (autor de “Le Tarot Égyptien, ses symboles, ses names are alphabet”, 1863), o espírita e terapeuta Bouvier, discípulo de Eliphas Jacques Charrot, que instruiu Bricaud na Cabala e na filosofia oculta. Em 1889, Bricaud se correspondeu com Brahme Kopp-Robur, que apoiou Bricaud a adotar uma religião incompreensível para a mente ocidental.
Ainda no mesmo ano, Bricaud entrou em contato com Papus e é introduzido por este em sua Ordem Martinista. Em 1901, Synésius ordenou Jean Bricaud como bispo na Église Gnostique Nome episcopal de Tau Johannes, e deu-lhe a administração da diocese de Grenoble-Lyon.
Depois da consagração, recebe o grau de SI na Ordem Martinista em 1903. Antes de sua participação na Église Gnostique, Jean Bricaud, havia se envolvido com os movimentos fundados por Eugene Vintras e com a Igreja Joanita dos Cristãos Primitivos de Fabrè-Palaprat.
Como mencionado anteriormente, Fabre des Essarts introduziu novos elementos na Igreja Gnóstica. Aparentemente o interesse dele em Ocultismo não incluía a Ordem Martinista, pois, pelo que se sabe, ele em nenhum momento foi membro da Ordem Martinista de Papus. Muitos dos dignitários da Igreja neo-Albigense eram da Ordem Martinista, o que incluía seu Sínodo Sagrado e seu próprio fundador. Havia um “forte desejo” entre os martinistas de ter uma igreja mais intimamente ligada com a sua Ordem e também com uma estrutura mais intimamente relacionada com a Igreja Católica Romana.
Já em 1907, com o encorajamento de Papus, Bricaud rompe com Fabre des Essarts e funda seu próprio ramo da Igreja Gnóstica, cuja estrutura tinha mais paralelos com a Igreja Católica Romana do que com a Igreja Cátara, o que incluía inclusive o rito batismal com água e a ordenação de Sacerdotes. Além disso, a Igreja de Bricaud tinha muitos aspectos derivados do Martinismo – tanto Bricaud quanto Doinel eram Martinistas (Fabre des Essarts não era). A essa iniciativa de Bricaud e de Encausse se junta Fugarion e então é anunciada a fusão no ramo de Bricaud das três “igrejas” gnósticas francesas: a Igreja Gnóstica de Doinel, A Igreja Carmelita de Vintras e a Igreja Joanita de Palaprat – sob o título de l’Église Catholique Gnostique[1]Aqui finalmente as primeiras partes do trabalho se conectam com a Igreja Gnóstica em si.
Em fevereiro de 1908, o sínodo episcopal da EGC elegeu Bricaud como seu Patriarca, sendo nomeado “Evêque Primat de France” (Bispo Primaz da França) na Igreja Gnóstica, sob o nome de Tau Jean II. Por ocasião de sua nomeação como Patriarca da nova Igreja Gnóstica, Jean Bricaud proferiu um sermão em Lyon. Logo após sua eleição como Patriarca da “Santa Igreja do Paracleto”, escreve um artigo denominado “Homélie”, onde afirma que há a necessidade de uma nova religião, já que o catolicismo não poderia atender as necessidades da sociedade moderna por mais tempo. Bricaud também inclui um batismo com água e um sacerdócio à sua Igreja.
De acordo com Gérard Galtier a EGC de Bricaud era mais direcionada ao Ocultismo e à Tradição Esotérica Ocidental em geral, enquanto a Église Gnostique de Fabré des Essarts era mais filosófica e “universalista”, incorporando inclusive elementos da metafísica oriental em seu sistema.
Congres Maçonnique Spiritualiste
Em Junho de 1908, Papus organiza em Paris no templo Comaçônico de “Le Droit Humain”, a Conferência Internacional Maçônica e Espiritualista. Papus, Victor Blanchard e Téder organizaram o congresso e muitos dos participantes pertenciam à “elite oculta” (francófona), com representantes e autoridades de Altos Graus maçônicos e dos mais diversos ritos de natureza espiritual.
Os principais temas do congresso foram Espiritismo, Magnetismo, Maçonaria Espiritual e Cristianismo Esotérico. Muitos oradores de destaque fizeram conferências sobre esses tópicos. Entre os palestrantes podemos citar Papus, Victor Blanchard, Albert Jounet, Phanég (conversa sobre “L’Occultisme Chrétien”), Joseph Heibling (“l’Initiation Hebraique et Les Sciences Occultes”) e Téder.
Fabre des Essarts, na época do congresso, era o patriarca da Igreja Gnóstica da França (a Igreja original do Doinel) e também deu uma palestra. O tema de Synésius era a Igreja Gnóstica e sua palestra ainda é um documento histórico valioso hoje porque foi feita imediatamente após o cisma de 1907. Aqui estão traduzidos alguns trechos do discurso original de Synésius que refletem os pensamentos e sentimentos dele em relação ao cisma ocorrido e seus pensamentos sobre o gnosticismo em geral.
“Queridas Irmãs e Irmãos, não conheço o controverso programa deste congresso. Terei apenas algumas palavras a dizer. Acima de tudo, é importante estabelecer claramente qual a qualidade que estou entre vocês. Foi Jules Doinel, com o nome místico de Valentín, designado pelo Altíssimo para restaurar a Santa Gnose que ordenou de acordo com os ritos dos antigos Albigenses, e entre os membros mais eminentes desta assembleia, vejo aqueles que assistiram à minha consagração naquela cerimônia piedosa. O Alto Sínodo me designou mais adiante para suceder a Jules Doinel com o título de Patriarca da Igreja Gnóstica da França e Bispo de Montségur, no qual nos lembramos do local em que nossos irmãos Cátaros aceitaram a coroa do martírio. É nesta transmissão direta, regular e autêntica que me investiram com capacidades episcopais e com o direito de conferir a iniciação gnóstica e os sacramentos de nossa religião majestosa. Qualquer reforma relacionada a esta Igreja sem nossa aprovação é considerada um cisma e uma heresia”.
Está muito claro como Tau Synésius se sentia em relação ao cisma de 1907. Segundo Synésius, existe apenas uma Igreja verdadeira, a “Église Gnostique de France”. A “Église Catholique Gnostique” de Bricaud e Papus de 1907 foi considerada por ele uma Igreja “herética”. Synésius continuou sua conferência informando à assembleia a existência do oratório da “Église Gnostique de France” em Paris, onde “ocorrem regularmente iniciações, mas devo acrescentar que nossas reuniões são absolutamente privadas”. Synésius continuou explicando que a intenção original da Igreja Cátara era “ser um templo aberto a todos”, mas, nesse momento, a Igreja era forçada a reconsiderar sua intenção original. “Tanto quanto o abade Vilatte, fechamos nosso umbral ao profano”.
Fabre des Essarts encerrou sua conferência dando algumas informações sobre o progresso da Église Gnostique da França no exterior. Ele mencionou brevemente um ramo da Igreja Gnóstica que aparentemente existia em Praga. Esse ramo era liderado por um certo “frère Jérôme”, que era o Patriarca do ramo boêmio. Synésius também mencionou o ramo belga, pequeno, mas muito ativo, como a Igreja na Espanha.
Gnostiche Katholische Kirche
Uma das inúmeras autoridades ocultistas da época que estavam no Congresso foi Theodor Reuss (1855-1923), cabeça da O.T.O., o qual investe Papus de poderes para estabelecer um Supremo Grande Conselho Geral dos Ritos Unidos da Antiga e Primitiva Maçonaria para o grande Oriente da França e das Dependências de Paris, delegando a Papus autoridade sobre o Rito de Memphis-Misraim. Segundo os documentos publicados posteriormente, Theodor Reuss por sua vez havia recebido de Papus a autoridade Episcopal Primaz sobre a l’Église Catholique Gnostique, a qual passa a figurar em suas publicações como mais uma das organizações que tinham sua “Sabedoria e Conhecimento” concentrados na O.T.O.. Entretanto, Bricaud, Papus e Fugarion mudam o nome de sua Igreja para l’Église Gnostique Universelle (E.G.U.), relegando o nome anterior a Reuss, que passou a se utilizar do mesmo na tradução germânica de die Gnostische Katholische Kirche (G.K.K.).
Referências
↑1 | Aqui finalmente as primeiras partes do trabalho se conectam com a Igreja Gnóstica em si |
---|
Deixe uma resposta