(trechos selecionados da obra de Papus a partir de fontes diversas)
SOCIEDADE DE ILUMINADOS
Uma Sociedade de Iluminados liga-se ao Invisível por um ou por vários de seus chefes. Seu princípio de existência tem sua origem em um plano supra-humano; toda sua organização administrativa se faz de cima para baixo. Os membros da fraternidade obedecem a seus chefes, obrigação que se torna ainda mais importante à medida que os membros entram no círculo interior.
A Fraternidade de Iluminados mais conhecida, anterior a Swedenborg, a única da qual se pode falar no mundo profano, é a dos Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz. Foram os membros dessa fraternidade que decidiram criar sociedades simbólicas, encarregadas de conservar os rudimentos da Iniciação Hermética, dando nascimento aos diversos ritos da Franco-Maçonaria. Não se pode estabelecer nenhuma confusão entre o Iluminismo, centro superior de estudos Herméticos, com a Maçonaria, centro inferior de conservação, reservado aos debutantes. Somente entrando nas Fraternidades de Iluminados, podem os Franco-Maçons obter o conhecimento prático desta Luz, quando então sobem de grau em grau. Com efeito, posse do grau de Irmão Iluminado da Rosa-Cruz não consiste na propriedade de um pergaminho ou de uma faixa sobre o peito; prova-se somente pela aquisição de poderes espirituais ativos, que o pergaminho e a faixa apenas podem indicar.
MOVIMENTO MARTINISTA
O Movimento Martinista conheceu quatro grandes períodos:
a-) O Martinesismo de Martinez de Pasqually;
b-) O Willermosismo de Jean-Baptiste Willermoz;
c-) O Martinismo de Louis Claude de Saint-Martin;
d-) O Martinismo contemporâneo (fim do século XIX).
[N.T.: Aqui, Martinismo contemporâneo refere-se à Ordem Martinista, tal como estabelecida por Chaboseau e Papus. Essa classificação do Movimento Martinista em quatro períodos não se confunde com a classificação de Nebo, S.I.I., que também propôs quatro períodos: Martinismo Primitivo (Pasqually), Antigo (Saint-Martin e Willermoz), Moderno (Ordem Martinista), Contemporâneo (Ordens Martinistas)].
Através dos esforços constantes dos Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz, o Invisível concedeu um impulso considerável à Humanidade, através da iluminação de Swedenborg, o célebre sábio sueco. Entre os iniciados de Swedenborg, houve um a quem o Invisível prestou assistência particular e incessante, um homem dotado de grandes faculdades de realização em todos os planos. Esse homem, Martinez de Pasqually, recebeu a iniciação do Mestre em Londres, sendo encarregado de difundi-la na França.
Em que consistia o Martinesismo? Na aquisição pela pureza corporal, anímica e espiritual, dos poderes que permitem ao homem entrar em relação com os Seres Invisíveis, denominados anjos pela Igreja, chegando não somente a sua reintegração pessoal, mas também à reintegração de todos os discípulos de vontade. Somente quando os discípulos obtinham sozinhos a assistência real do Invisível é que Martinez lhes outorgava o grau de R+, como mostram suas cartas, com evidência. Dos discípulos de Pasqually, dois merecem particularmente nossa atenção pelas obras que realizaram: Jean Baptiste Willermoz, de Lyon, e Louis Claude de Saint-Martin.
A obra capital de Willermoz foi a organização de congressos maçônicos, os Conventos, permitindo aos Martinistas desmascarar previamente a obra fatal dos Templários e apresentar o Martinismo sob seu real aspecto de universalismo integral e imparcial da Ciência Hermética. O Convento de Wilhemsbad foi aberto em uma terça feira, no dia 16 de julho de 1782, sob a presidência de Ferdinand de Brunswick, um dos chefes do Iluminismo Internacional. Desse convento saiu a Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa de Jerusalém e uma nova condenação do sistema Templário.
[N.T.: Aqui, “Sistema Templário” refere-se especificamente ao sistema-maçônico que velava o espírito-objetivo de vingança contra os inimigos do Templo.]
Constata-se nos documentos depositados no Supremo Conselho da Ordem Martinista, vindos diretamente de Willermoz, que as reuniões, reservadas aos membros portadores do título de Iluminado, eram consagradas à oração coletiva e às operações, permitindo a comunicação direta com o Invisível. Os iniciados davam o nome de Filósofo Desconhecido ao ser invisível com o qual se comunicavam. Foi ele quem ditou, em parte, o livro Dos Erros e da Verdade de Saint-Martin, que somente adotou esse pseudônimo mais tarde, por ordem superior. O Agente ou Filósofo Desconhecido ditou 166 cadernos de instrução, possibilitando a Saint-Martin copiar os principais.
Saint-Martin também concentrou todos os seus esforços para lutar contra o progresso dos “Filósofos”, que se esforçavam em precipitar a Revolução espalhando por toda a Europa os princípios do ateísmo e do materialismo. [Depois que conheceu a obra Boehme, Saint-Martin se afastou dos aspectos cerimoniais e maçônicos de sua primeira escola e se voltou à perpetuação íntima da iniciação:]
“Nossa primeira escola tem coisas preciosas. Eu mesmo fui levado a acreditar que Pasqually, de quem me falais (o qual, é necessário vos dizer, era nosso mestre) tinha a chave ativa de tudo aquilo que nosso caro Boehme expõe em suas teorias, mas não nos considerava aptos para receber verdades tão elevadas. Ele possuía, também os pontos que nosso amigo Boehme não conheceu ou não quis mostrar, tais como a resipiscência do ser perverso, para a qual o primeiro homem teria sido encarregado de trabalhar; ideia que me parece ainda ser digna do plano universal, mas sobre o qual, entretanto, ainda não tenho nenhuma demonstração positiva, exceto pela inteligência. Quanto à Sofia e ao Rei do mundo, ele nada nos revelou; deixou-nos nas noções elementares do mundo e do demônio. Mas não afirmarei que ele não tenha tido conhecimento de tudo isso; estou persuadido que acabaríamos por chegar a esse conhecimento, se o tivéssemos conservado por mais tempo. Resulta de tudo isso que há um excelente casamento a se fazer entre a doutrina de nossa primeira escola e a de nosso amigo Boehme. É sobre isso que trabalho; confesso-vos francamente que considero os dois esposos tão bem feitos um para o outro que não encontro nada de mais completo: assim, aprendamos deles tudo o que pudermos, eu vos ajudarei da melhor maneira possível”.(L. C. Saint-Martin)
ORDEM MARTINISTA
É através dos membros do Supremo Conselho que o Martinismo liga-se ao Iluminismo Cristão. A Ordem em seu conjunto é antes de tudo uma escola de cavalaria moral, que se esforça em desenvolver a espiritualidade de seus membros, pelo estudo do Mundo Invisível e de suas Leis, pelo exercício do devotamento e da assistência intelectual e pela criação em cada espírito de uma fé cada vez mais sólida, baseada na observação e na ciência. O Martinismo constitui uma Cavalaria do Altruísmo, oposta à liga egoísta dos apetites materiais, uma escola onde se aprende a dar ao dinheiro o seu justo valor, não o considerando como influxo Divino; é, finalmente, um centro onde se aprende a permanecer impassível diante dos turbilhões positivos ou negativos que subvertem a Sociedade! Formando o núcleo real desta universalidade viva, que fará um dia o casamento da Ciência sem divisão com a Fé sem atributos, o Martinismo esforça-se em tornar-se digno de seu nome, criando escolas superiores de ciências metafísicas e fisiogônicas, desdenhosamente separadas do ensino clássico, sob pretexto de serem ocultas.
Os exames instituídos nessas escolas abrangem: o simbolismo de todas as tradições e de todas as iniciações; as chaves hebraicas e os primeiros elementos da língua sânscrita, permitindo aos Martinistas aprovados nos exames explicar sua tradição a muitos Franco-Maçons dos altos graus e mostrar que os descendentes dos Iluminados permaneceram dignos de sua origem.
Tal é o caráter do Martinismo. Compreende-se que é impossível encontrá-lo integralmente em cada um dos membros da Ordem, pois cada iniciado representa uma adaptação particular dos objetivos gerais. Mas esta época de ceticismo, de adoração da fortuna material e do ateísmo tem grande necessidade de uma reação francamente cristã, ligada sobretudo à ciência e independente de todos os cleros, sejam católicos ou protestantes.
O Martinismo, não exigindo nenhum juramento de obediência passiva de seus membros e não lhes impondo nenhum dogma (muito menos o dogma materialista ou clerical) deixa-lhes inteiramente livres em suas ações. O Martinismo ignora a exclusão de membros pelo não pagamento de cotização, desconhece o tronco de solidariedade. Tão séria é a organização Martinista que não se ocupa de política nem de religião, tanto na França como no exterior, uma vez que seus estatutos proíbem terminantemente essas atividades.
Essa organização pode expandir-se ainda mais ou cair na sombra e no silêncio de uma hora a outra, se esse for o desejo do Invisível. Esta é uma característica das Ordens de Iluminados.
ORDEM MARTINISTA – PROPÓSITO
Os Profanos, os Iniciados e os Iniciadores devem estar esclarecidos de que o propósito da Ordem não é fazer mestres dogmatizadores, mas HUMILDES ALUNOS devotados ao culto da ETERNA VERDADE.
Os Ensinamentos são elementares, poucos símbolos, mas são suficientes para a meta muito modesta de nossa Ordem. Seus membros conhecem poucas coisas, mas as conhecem bem e têm os elementos de um desenvolvimento pessoal que pode levar muito longe. DESCONHECIDOS E SILENCIOSOS, eles não esperam outros prêmios por seu trabalho senão a infinita satisfação proveniente de uma boa consciência e um coração pronto para qualquer sacrifício pela humanidade.
A Ordem Martinista foi formada a partir dos ensinamentos de Louis-Claude de SaintMartin, o Phil:: Inc::, e tem como objetivo o ESTUDO TEÓRICO E PRÁTICO DAS FORÇAS ESPIRITUAIS LATENTES NO HOMEM E NA NATUREZA. É uma cavalaria cristã laica, absolutamente independente de qualquer confissão religiosa e de qualquer clero.
A Ordem Martinista é uma associação de estudos científicos e simbólicos e não uma sociedade secreta. A Ordem Martinista permanece fora de qualquer discussão política ou religiosa. Cada membro da Ordem deve, portanto, se mostrar OBSERVADOR FIEL DAS LEIS e das formas de governo de seu país.
O Martinismo é, acima de tudo, uma ALAVANCA de desenvolvimento individual e um esforço no sentido da penetração da ciência viva. Como tal, procura dar ao HOMEM DE DESEJO o sentimento de sua humildade e a vitalidade que ele pode retirar deste entendimento.
Nós não somos um novo rito maçônico, não damos aos homens da torrente o gosto por fitas multicoloridas e títulos poderosos; o homem que pensa e que aspira compreender as forças ativas não possui a necessidade desses chocalhos.
Se, por um lado, o funcionamento administrativo do Martinismo exige, como qualquer organização moderna, uma hierarquia muito simples, por outro, a evolução individual dos Espíritos transcorre sem qualquer hierarquia.
O Martinismo deve primeiramente encontrar, na sua esfera de ação, os AFLITOS: aflitos materiais lutando contra a pobreza ou aflitos intelectuais lutando para conhecer as verdades ainda não percebidas e encontrar a “Paz do Coração”.
Para ser guiado no caminho e nos estudos o Martinista primeiramente deve exercer cuidado para, em humildade, NÃO FAZER JULGAMENTOS a respeito de seus irmãos, cometendo uma infração e, muitas vezes, caluniando individual ou coletivamente. Ele se pergunta o que teria feito a si mesmo se a ocasião o tivesse empurrado e o encurralado como o que ocorrera com o infeliz acusado.
Nós nos encontramos algumas horas por semana para discutir sobre coisas espirituais e estudar alguns velhos autores místicos. Então, mais intimamente, penetramos no formidável poder do VERBO em todos os planos e preparamos, assim, os primeiros esforços para manifestações realmente ativas.
ORDEM MARTINISTA – CARACTERÍSTICAS
A ORDEM MARTINISTA é uma SOCIEDADE MÍSTICA. Como uma sociedade, o Martinismo é a UNIÃO DE FORÇAS INVISÍVEIS INVOCADAS PARA A BUSCA DA VERDADE.
A Ordem Martinista é um CENTRO ATIVO DE DIFUSÃO INICIÁTICA. É constituída para espalhar rapidamente e de uma forma extensiva os ensinamentos do ocultismo e das grandes linhas da tradição ocidental cristã.
A Sociedade Martinista possui como primeira característica o respeito da LIBERDADE HUMANA no sentido político da palavra. Outra característica do Martinismo é aceitar em seu seio HOMENS E MULHERES. A terceira característica do Martinismo é ser CRISTÃO – o Martinismo defende a ação de Cristo em todos os planos.
Pelo ensino oral da tradição ocidental cristã, o Martinismo conecta a alma do neófito aos CENTROS VIVENTES DO INVISÍVEL; ele faz ainda com que ele perceba a ação vivificante do Verbo Divino, do Cristo glorioso no Universo, e se torne digno de ser chamado como um “CULTIVADOR DOS JARDINS CELESTIAIS”.
Chamados a agir fortemente sobre a sociedade profana na luta contra os efeitos nocivos do baixo materialismo e do ateísmo, nossa Ordem deve distribuir seus membros entre várias funções bem caracterizadas que são: Semear, Ensinar, ou seja, Cultivar; enfim, Examinar e Hierarquizar e, finalmente, Colher.
Um Martinista não é necessariamente um estudioso erudito ou um pesquisador dedicado ao estudo de forças, ciências ou as artes ocultas. Ele pode, em vez disso, com os mesmos graus, ser um ATIVO PURO, um semeador da verdade, um modesto e humilde em uma sociedade profana, cujo CORAÇÃO ILUMINOU o cérebro através da prática da devoção e da caridade.
ORDEM MARTINISTA – ESTRUTURA
Alguns meses antes de sua morte, Delaage quis passar a alguém a semente que lhe tinham confiado, mas dela não esperava nenhum fruto. Pobre depósito, constituído por duas letras e alguns pontos, resumo dessa doutrina iniciática que iluminou as obras de Delaage. Mas o Invisível estava presente e foi ele quem se encarregou de religar as obras à sua real origem e de permitir a Delaage confiar sua semente a uma terra onde ela poderia se desenvolver.
Assim como Martinez havia adaptado o Swedenborgismo ao meio no qual deveria agir, assim como SaintMartin e Willermoz tinham também feito as alterações indispensáveis, igualmente o Martinismo contemporâneo adaptou-se a seu meio e à sua época, conservando à Ordem seu caráter tradicional e seu espírito primitivo. Essa adaptação consistiu sobretudo na união íntima dos sistemas de Saint-Martin e de Willermoz:
Os Iniciadores Livres, criando discretamente outros Iniciadores e desenvolvendo a Ordem pela ação individual, caracterizavam o sistema de Saint-Martin.
Os grupos de Iniciados e Iniciadores, regidos por um centro único e constituídos hierarquicamente, caracterizavam o Willermosismo. Eis porque o Martinismo contemporâneo constituiu seu Supremo Conselho, mantendo Iniciadores Livres, assessorando-se de Delegados Gerais, Delegados Especiais, administrando lojas e grupos espalhados atualmente em toda a Europa e América. Derivando diretamente do Iluminismo Cristão, o Martinismo acabou adotando seus próprios princípios. Eis porque as nomeações são feitas de cima para baixo: o Presidente da Ordem nomeia o Comitê Diretor, este designa os membros do Supremo Conselho, os Delegados Gerais e administra os negócios correntes. Os Delegados Gerais nomeiam os chefes das lojas, os quais designam seus oficiais e são mestres de suas lojas. Todas as funções são inspecionadas diretamente pelo Supremo Conselho, através de seus Inspetores principais e de seus inspetores secretos [N.T.: Membros do Supremo Conselho]. Eis a síntese desta organização que pôde, sem dinheiro, adquirir considerável extensão e resistir até o presente todas as tentativas de desmoralização, lançadas sucessivamente por diversas confissões e, sobretudo, pelo clericalismo ativo. A Ordem sobreviveu a tudo, mesmo às calúnias lançadas contra seus membros, considerados enviados dos Jesuítas, subordinados ao Inferno ou magos negros. Os Chefes sempre foram prevenidos em relação a essas intrigas e aconselhados sobre a maneira de evitá-las. O sucesso da Ordem vem confirmar a alta origem das instruções recebidas.
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