Academia Cabalística da Rosa+Cruz

Ainda que de maneira muito discreta, a antiga Ordem Cabalística da Rosa+Cruz foi perpetuada. E somos muito gratos aos responsáveis pela sua preservação pois, graças a eles, hoje estamos vinculados a uma autêntica tradição rosacruciana do sul da França. Dada a maneira como a tradição foi protegida, sempre sob o mais estrito laço de sigilo e obediência, presenciamos muita polêmica acerca da natureza dos ensinamentos da antiga OKRC. Não há consenso sequer a respeito da sua estrutura original ou dos seus objetivos. Em minhas publicações, tocarei em assuntos relacionados à tradição gnóstica, cavaleiresca, etc., mas, antes de prosseguirmos para temas que não o rosacrucianismo, julgo ser importante trazer um esclarecimento mais definitivo a respeito da Ordem Cabalística da Rosa+Cruz. Para tanto, gostaria de propor que o leitor examinasse os documentos, todos eles escritos sob a pena de Barlet, que apresento a seguir e cuja transcrição de trechos selecionados apresento mais adiante.

Acredito que esta exposição, mesmo que bastante abreviada, rapidamente o levou a compreender que, sob a direção de Robert Ambelain, a OKRC foi distanciada do seu projeto inicial. Ambelain introduziu na OKRC uma estrutura de graus (1. S.I.I., 2. RC de Kilwinning, 3. Reau-Croix, 4. RC d’Orient) que não se relacionavam com a natureza original do seu trabalho esotérico. Nossa exposição também evidencia o erro daqueles que procuram sustentar que a antiga OKRC era constituída apenas pela transmissão condecorativa de títulos acadêmicos. Por sua vez, fica também deflagrada a má-fé dos que, sustentando estarem vinculados a núcleos interiores da antiga OKRC, venderam iniciações em criativos sistemas por eles mesmos fantasiados. A Tradição de Cedaior, por sua vez, se manteve mais próxima das ideias originais, ainda que não tenha perpetuado o sistema de graus originais em sua inteireza.

Outros documentos, também escritos sob a pena de Barlet, são apresentados ao fim desta publicação. Examine-os com cuidado.

Antes de prosseguirmos, também gostaria de citar um trecho selecionado do documento de fundação da Academia:

“Nós, Irmãos Iluminados da R+C, iniciadores detentores das linhagens da Ordem Cabalística da Rosa+Cruz das Tradições Cedaior e R. Ambelain por diferentes vias, fazemos conhecer que a Ordo Illuminati Rosae-Crucis, faceta exterior da célula de veladores Rosa+Cruz Oculta – D::S::S::, também conhecida como Collegium Pontificum da E.G.A.L.//E.GRAAL, fundada no dia de Todos os Santos do 125º Ano da Restauração da Gnose, exteriorizou de si a Academia Cabalística da Rosa+Cruz – ACR+C, autêntica perpetuadora da tradição da antiga Ordem Cabalística da Rosa+Cruz, de forma a poder absorver para si Martinistas Culminados (…) e poder selecionar membros para a Ordo Illuminati Rosae-Crucis. Estabelece-se, desse modo, o caminho iniciático que, iniciado na Ordem Martinista, passa pelo C.F.D. (…), pela Academia Cabalística da Rosa+Cruz (Iniciação R+C), pela Ordem dos Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz (Armação R+C e Ordenação R+C), podendo alcançar a própria R+C Oculta – D::S::S:: (Consagração R+C). Tal caminho será doravante conhecido como SISTEMA R+C I.N.R.I. que assume por missão a manutenção da relação entre a Ordem Martinista e a Tradição Iluminista Rosa+Cruz.”

Quando concebida, a ACRC foi planejada como uma organização ancorada na tradição antiga e protegida pelos membros superiores da Ordem dos Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz, uma organização interna da Igreja Gnóstica da Luz Eterna. Desse modo, as transmissões da ACRC acontecem sob a tutela direta de um membro do segundo grau da OIIRC ou por um Cavaleiro Hermético autorizado que foi preparado para tanto pela OIIRC. A ACRC se vincula com a antiga OKRC por diferentes vias ininterruptas e preserva tanto os graus rosacrucianos franceses e alemães originais, quanto as titulações acadêmicas.

Desse modo, quando um membro passa pelo primeiro exame e é recebido em uma de nossas Casas, se torna um Irmão Rosacruz (recém-plantado, isto é, um neófito) e a ele são outorgados os títulos de Bacharel em Kabbalah e de Cavaleiro da Rosa. Os caminhos do Zelator, do Theoricus, do Praticus e do Philosophus foram abertos a ele. Se um dia o membro passar pelo segundo exame e submeter a devida produção intelectual, ele se tornará um Adepto e os títulos de Licenciatura em Kabbalah e de Cavaleiro da Cruz ser-lhe-ão outorgados. Nesse momento, os caminhos do Junior, do Major e do Exemptus serão abertos. Enfim, submetendo uma tese à Academia e obtendo-lhe a aprovação, o membro poderá se tornar um Mestre e os títulos de Doutorado em Kabbalah e de Cavaleiro da Rosa-Cruz ser-lhe-ão conferidos. O membro estará autorizado a prosseguir pelo caminho do Magister Templi.

Um ponto importante: não confunda Cavaleiro da Rosa-Cruz com Cavaleiro Rosa+Cruz. Quanto a este último, trata-se do primeiro grau da Ordem dos Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz. Como você sabe, a OIIRC seleciona seus membros dentro de outras organizações, dentre elas a própria ACRC.

Antes de dar desfecho a esta publicação, gostaria de propor a leitura dos objetivos da Ordem:

Objetivo

1

Cultivar entre todos os mais elevados estudos esotéricos pelo exame minucioso de todas as doutrinas de mistério conhecidas que estejam particularmente atreladas às tradições ocidentais, de acordo com o mais elevado meio intelectual e com o meio místico, sempre tidos como inseparáveis ​​(na união recíproca da Rosa à Cruz e da Cruz à Rosa)

2      

Restaurar e desenvolver constantemente a doutrina esotérica, incluindo todos os dogmas, todas as religiões, todas as filosofias, todas as tradições, conseqüentemente as respeitando como manifestações sempre necessárias da Verdade total, que permanecem, no entanto, independentes uma das outras.

3

Com base nessa doutrina sempre progressiva, restaurar o Colégio Secreto iniciático, hierárquico e que permanentemente se adapta às legítimas aspirações com o estado psíquico do século para aí manter a cultura das mais altas especulações humanas, desenvolver as faculdades psíquicas superiores, e obter, por seu exercício, a ajuda do invisível para ouvir e merecer a missão de todas as revelações para o progresso da humanidade.

Para tanto, trabalhar com o espírito de absoluta caridade, com constante dedicação recíproca, levando ao avanço intelectual, moral e espiritual de todos os nombres da Ordem, devidamente hierarquizados de acordo com a sua capacidade atual.

4

Recolher, tanto pelo trabalho pessoal quanto pela investigação exterior, todo o material de estudo da documentação, das instruções e da prática necessárias para o trabalho  (materiais particularmente ligados a todos os assuntos que possam relacionar-se às antigas fraternidades Rosa – Cruzes e fraternidades afins).

5

Organizar, pelas obras práticas da Alta Magia (com a exclusão de todos os trabalhos ocultos indesejaveis), o estudo de todos os fenômenos misteriosos, de todas as forças ocultas da Natureza e de todos os seres invisíveis inferiores, iguais ou maiores que ao homem.

6

Consagrar-se a encontrar todos aqueles que pareçam dignos e capazes de dar uma contribuição efetiva à Ordem.

Propagar, em particular pela publicação anônima de todas as obras pertinentes, as doutrinas reconhecidas e restauradas pela Ordem, mas apenas na medida em que sejam acessíveis a quem ainda não se consagrou suficientemente.

7

Realizar todas as obras e práticas da Ordem no espírito da maior tolerância, com uma submissão integral às leis sociais em vigor, excluindo qualquer espírito de luta contra outras atividades, mas também nos maiores pensadores de pensamento e expressão, consagrar-se a tudo que possa contribuir para o aperfeiçoamento individual e social da Humanidade.

Formalidades

Para o estabelecimento da Doutrina:

Serão feitas perguntas comuns a cada grau, sobre os quais deverão ser apresentados trabalhos pessoais como base para a discussão e a posterior síntese, até a satisfação unânime. O modo de pesquisa é deixado à iniciativa individual, mas deve ser indicado em cada memorando.

Para a prática:

Será fundada, o mais brevemente possível, uma biblioteca e um laboratório comum no local e em condições a serem fixadas.

Para a iniciação:

Cada membro, exceto os de primeiro grau, será instruído e dirigido em seus estudos por um Irmão mais avançado do que ele e designado por aqueles nos graus mais elevados, a menos que aprovado pelo Conselho Supremo.

Para ajuda moral e social entre os Irmãos:

Qualquer membro pode fazer, ao Supremo Conselho, as perguntas ou os pedidos de ajuda que julgar útil. Isso será resolvido em conselho, que os receberá e responderá sob o selo do anonimato, a não ser que se especifique o contrário.

Para a prática social:

A ordem publicará às suas expensas e em seu nome unicamente. Sem o nome individual do autor, qualquer obra julgada necessária pelo Conselho Supremo poderá ser confiada à redação de um ou mais membros de qualquer categoria, desde que o autor lhe ceda qualquer parte dos benefícios da publicação, se houver.

Os membros organizarão palestras e cursos que serão publicados na medida em que se julgar necessário (ao sabor do conselho supremo)

Os membros terão que se esforçar também para fundarem escolas e dispensários públicos, mas de forma anônima e não deixando nenhuma denominação da Ordem.

Constituição:

Composição – a Ordem consistirá de três categorias subdivididas, como será dito. O número de membros será sempre limitado a um máximo a ser fixado pelo Conselho Supremo, que será, atualmente, o seguinte

1º Grau- Os Neófitos ou Cavaleiros da Rosa

I grau – Zelator com número máximo de            11

II grau – Teoricus                                                10

III grau – Praticus                                                 9

IV grau – Philosophus                                           8

2º Grau – Adeptos ou Cavaleiros da Cruz

V grau – Junior                                                   7

VI grau – Major                                                     6

VII grau – Exemptus                                              5

3º Grau – Mestres ou Cavaleiros da Rose-Cruz

VIII grau– Magister Templi                                      4

IX grau – Grão-Mestre                                           3

Total                                                                   63

Operação:

O regimento interno fixará as datas das reuniões, os seus horários e o seu ritual, bem como os trabalhos a serem realizados. Fica estabelecido, a partir de agora, que as publicações individuais dos membros não comprometerão de forma alguma a Ordem. Cada membro terá o direito de indicar o título das suas obras como já foi dito, com a seguinte exceção: os membros do primeiro grau não poderão tornar pública a pertença à Ordem; os do segundo Grau terão a liberdade de se dizerem Membros da Rosa-Cruz; os do terceiro grau poderão se autodenominar Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz.


Comentários

Uma resposta para “Academia Cabalística da Rosa+Cruz”

  1. Henrique

    Maravilhoso! Mas um sistema como esse com limite máximo de membros em cada grau, não cria um entrave no momento que os graus superiores atingem sua capacidade? impedindo assim que os próximos irmãos possam galgar os próximos graus?

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