História dos Desenvolvimentos Gnósticos Modernos – Parte 3

Enfim chegamos à história do surgimento da Igreja Gnóstica. Nesta parte, conheceremos melhor Jules Doinel, saberemos como a Ecclesia Gnostica surgiu, a sua sucessão espiritual, qual a relação de Lady Cathness com esse “ressurgimento” gnóstico e conheceremos o Sínodo Sagrado da Igreja. Peço especial atenção às nota de rodapé, pois algumas informações que estão nesta parte são geralmente omitidas de muitos textos em português que tratam do tema, omissões estas que reforçam ideias preconceituosas que não existiam dentro do círculo esotérico francês do final do século XIX, mas que algumas escolas hoje reforçam através de deturpações históricas e interpretativas.

Jules Doinel

Jules Doinel

A “Igreja Gnóstica Católica Universal” foi fundada espiritualmente[1]Sem sucessão apostólica, mas espiritualmente de fato. em 21 de setembro de 1890 por Jules Doinel (Jules-Benoît Stanislas Doinel de Val-Michel, 1842 – 1903). Doinel era maçom[2]Membro do Grande Oriente da França., espírita e bibliotecário. Como espírita praticante, começou a ser confrontado com visões de aspectos femininos da Divindade das mais variadas formas, ficando convencido de que era seu destino participar da restauração do aspecto feminino divino e dar-lhe seu devido lugar na religião. Em 1888, Doinel descobriu na biblioteca de Orléans um documento datado de 1022 que foi escrito por um precursor dos cátaros, um certo Cônego Stephan de Orléans, um dos precursores do Catarismo que foi condenado à fogueira por heresia pela Igreja Romana no mesmo ano. Doinel começou a ficar fascinado pelos cátaros e seus antecessores, os Bogomilos, os Paulicianos, os Maniqueus e vários outros movimentos gnósticos. Ele estudou suas doutrinas e ficou convencido de que “o Gnosticismo era a verdadeira religião por trás da Maçonaria”.

Na segunda metade do século XIX, na França, um interesse crescente pelo movimento cátaro havia sido desenvolvido. Por volta de 1874, foi publicado um livro de sucesso, intitulado “Histoire d’Albigenses”, escrito por Napoléon Peyrat, Federico Mistral e outros[3]Envolvidos com a “Compagnie des Jeux Floraux”.; em 1896, apareceu a revista “Montsegur”, publicada por Prosper Estieu e, por fim, Joseph Péladan publicou seu pequeno tratado “de Parsifal a Dom Quixote, o segredo dos trovadores”. O hype cátaro conquistou toda a França e foi de especial interesse para os ocultistas parisienses no final do século XIX. A contribuição de Doinel para o hype cátaro na época foi a sua lenda da primeira missa gnóstica que foi realizada no castelo de Montsegur”.

O ponto culminante ocorre quando Doinel tem uma visão do Eon Jesus, assistido por Bispos bogomilos,que o encarrega da tarefa de estabelecer uma nova Igreja, consagrando-o como Patriarca, Bispo de Montségur e Primaz dos Albigenses. A partir desse momento, Doinel passa a procurar insistentemente por contatos com espíritos Cátaros e Gnósticos nos mais diversos salões espíritas – levando-o a se associar com Lady Caithness e seu círculo.

Lady Marie Cathness

Lady Caithness

Maria de Marietegui (1842-1895), Lady Marie Caithness, duquesa de Pomar, foi abordada por volta de 1882 por H. P. Blavatsky, Coronel Olcott e Annie Besant para estabelecer o ramo francês da Sociedade Teosófica. A Duquesa organizou sessões no mesmo oratório que, ao longo dos anos, serviu como “Santuário de Meditação” da “Societe d’Theosophique de Paris”. Ela foi um dos primeiros membros da Sociedade Teosófica e uma influente espírita. O Espiritismo era altamente influente para os ocultistas da época. Muitos deles eram afiliados aos círculos espíritas e faziam uso de práticas que pertenciam ao “currículo espírita” (sessões de comunicação, psicografia, etc.). Essas práticas eram no geral aceitas no movimento ocultista até então. Muitos escritos[4]A Doutrina Secreta de Blavatsky, O Livro da Lei de Crowley, etc. daquele período (1875-1925) que hoje são considerados “Clássicos do Ocultismo” foram escritos sob orientação. Visões, aparições, vozes etc. eram comumente aceitas no movimento ocultista como uma comunicação genuína com o mundo Supernal. Essa confiança comum nessas práticas e experiências explica o sucesso de pessoas como Jules Doinel. Atualmente, esse aspecto é geralmente negligenciado[5]Muito se deve a textos de alguns ocultistas que criticavam os fenômenos mediúnicos em contrapartida aos fenômenos que vivenciavam, como se os seus fossem superiores aos outros. Na realidade, por … Continue reading nos escritos sobre a história do movimento ocultista no fim do século XIX.

Lady Caithness era de origem espanhola. Casada com o inglês Lord Caithness. Ela herdou uma fortuna incrível depois que seu primeiro marido morreu, o Duque de Pomar, e possuía um palácio em Nice, chamado “Tiranti”. O palácio em Nice tornou-se um local de encontro de espíritas e ocultistas. Uma das visitantes foi Helena Petrova Blavatsky, anos antes de estabelecer a Sociedade Teosófica. O círculo de Lady Caithness atraiu muitos dos conhecidos espíritas e ocultistas do “renascimento francês do Ocultismo” no final do século XIX. Lady Caithness era uma discípula de Anna Kingsford, da ST. Ela se considerava a reencarnação de Mary Stuart. Doinel era associado de longa data de Lady Caithness.

A “Societe Théosophique d’Orient et d’Occident” (Sociedade Teosófica do Oriente e do Ocidente) era o ramo francês da Sociedade Teosófica liderado por ela. A Teosofia de Lady Caithness é influenciada por Anna Kingsford, o Cristianismo Esotérico de Jacob Boehme e Swedenborg, e um pouco afastada das tradições orientais dominantes nos ensinamentos da Sociedade Teosófica. Devido à formação espírita, também pesquisava na Sociedade fenômenos mediúnicos e parapsíquicos, o que incluiria também as comunicações com os espíritos. Algumas delas eram realizadas através de um pêndulo sobre um tabuleiro com letras marcadas. É interessante ressaltar que uma sessão realizada em 1881 tenha prenunciado à Duquesa “uma revolução na religião que resultaria na Nova Era de Nossa Senhora do Espírito Santo”. Lady Caithness dizia que mentes superiores falaram sobre uma Quarta Revelação (depois de Moisés, Jesus e os espíritas do Século XIX), que tinha como propósito criar uma religião verdadeiramente universal que conciliava os aspectos masculinos e femininos. Além disso, tentava conciliar o encontro de ocultistas e espiritualistas, rumo à esta religião universal.

É então com Lady Caithness, que Jules Doinel passa a receber comunicações cada vez mais frequentes solicitando que ele realizasse as tarefas devidas para o estabelecimento de uma Nova Igreja nos moldes gnósticos. Essas comunicações foram assistidas por muitos notáveis ocultistas[6]Dentre ele podemos citar o Abade Roca, associado ao círculo de ocultistas de Stanislas de Guaita. da época.

Uma das comunicações recebidas nestas sessões dizia o seguinte:

“Dirijo-me a você porque é meu amigo, meu servo e o prelado da minha Igreja Albigense. Estou exilada do Pleroma e sou o que Valentinus chamou Sophia-Achamoth. Sou o que Simão, o Mago, chamou Helena-Ennoia; para mim sou o eterno Andrógino. Jesus é a Palavra de Deus, Eu sou o pensamento de Deus. Um dia vou retornar à meu pai, mas preciso de ajuda nisso; requer as súplicas do meu irmão Jesus para que interceda por mim. Somente o infinito pode redimir o infinito e somente Deus pode redimir a Deus. Ouça bem: O Um traiu o quarto Um, logo o Um. E os Três são apenas Um: o Pai, a Palavra e o Pensamento. Estabeleça minha Igreja Gnóstica. O Demiurgo será impotente contra ela. Receba o Paráclito” (Extrato de uma comunicação entre Doinel e um Espírito “quem Valentino chamou de Sophia-Achamoth”).

Em outras sessões, Canon Stephan e Guilhabert de Castres, Bispo cataro de Toulouse no século XII que foi martirizado em Montségur, entraram em contato com ele.

A Sucessão Espiritual de Doinel

Selo Episcopal de Doinel

Em setembro de 1889, o Mais Alto Sínodo de Bispos do Paracleto  consistindo de 40 Bispos cátaros, se manifesta e revela seus nomes para Jules Doinel. Tais nomes mostram em uma longa pesquisa nos registros da Biblioteca Nacional Francesa uma precisão histórica admirável. O Sínodo apresenta-se como sendo capitaneado pelo mesmo Guilhabert de Castres que já aparecia noutras sessões. Nesta em particular os espíritos desencarnados dos antigos albigenses, unidos por uma voz celestial, impuseram suas mãos espirituais a Doinel e o consagraram Bispo da Santa Assembleia do Paracleto e da Igreja Gnóstica. Através de Guilhabert de Castres e outros, Doinel vai sendo instruído lentamente para reconstituir e ensinar a doutrina gnóstica fundando uma assembleia do Paracleto, que seria chamada Igreja Gnóstica, a qual se comporia de Perfeitos e Perfeitas[7]Embora tais denominações sejam originais do Catarismo, elas não assumem aqui o sentido de extremo ascetismo que possuíam e referem-se unicamente aos membros da congregação, sendo também muitas … Continue reading e teria como base os ensinamentos do quarto evangelho cristão, o Evangelho de João. A Igreja seria administrada por Bispos (homens) e Sofias[8]O que demonstra que a consagração de Sophias (ou Episcopisas) acontecia desde o princípio do ressurgimento gnóstico. (mulheres) que seriam eleitos e consagrados segundo o Rito Gnóstico. Helena-Ennoia iria ajuda-lo neste intuito e eles se casariam espiritualmente.

Assim, Doinel proclama o ano de 1890 como sendo o ano de início da Era da Gnose Restaurada[9]O que faz 1890 o ano I da Era da Gnose Restaurada. Documentos de diversas Igrejas Gnósticas trazem um calendário que apontam em qual ano de tal Era estamos. e assume o ofício de patriarca da Igreja Gnóstica com o nome Valentin II, em homenagem a um dos pensadores gnósticos mais influentes do século II, Valentinus.

Com base nas doutrinas teológicas de Simão o Mago, Valentinus e Marcião, e com os sacramentos derivados do Catarismo[10]Consolamentum e Appareillamentum., fortemente influenciado pela própria Igreja Católica Romana, Doinel compôs a sua Igreja Gnóstica. Ao mesmo tempo, a Igreja Gnóstica apresentava um sistema que poderia lembrar as escolas iniciáticas como a Maçonaria. A missa Gnóstica chamada de Fraction du Pain foi composta e a liturgia sacramental foi complementada com a inclusão de alguns sacramentos de origem cátara.

Sínodo Sagrado da Ecclesia Gnostica

Papus

Doinel logo ordena Bispos e Sophias, os quais elegiam um nome místico ao qual se precedia a letra grega Tau para representar a cruz grega ou o Ankh egípcio. Entre os bispos consagrados por Doinel se encontram figuras de grande proeminência do Ocultismo da época, entre eles temos: Gérard Encausse (1865-1916) mundialmente conhecido como Papus, que foi consagrado como Bispo de Toulouse com o nome de Tau Vincent; Paul Sedir (Yvon Le Loup, 1871-1926) como Tau Paulas, coadjutor (em segundo lugar) de Toulouse; Lucien Chamuel[11]Papus, Sedir e Chaumel eram líderes e dignitários de diversas ordens esotéricas., Tau Bardesanes, Bispo de La Rochelle e Saintes; Louis-Sophrone Fugarion, Tau Sophronius, Bispo de Béziers; Albert Jounet (1863-1929), Tau Théodotus, Bispo de Avignon; Marie Chauvel de Chauvignie[12]Primeira “Bispa”, ou mais corretamente, Episcopisa, que Doinel ordenou. (1842-1927), Sofia de Varsóvia com o nome de Esclarmonde; e Léonce-Eugène Joseph Fabre des Essarts (1848-1917) como Bispo de Bordeaux, com o nome de Tau Synesius. Tau Vincent, Tau Paulas e Tau Bardesanes[13]Papus, Sedir e Chamuel. formariam o “Sínodo Sagrado da Ecclesia Gnóstica”. Milko Bogaard diz que uma associada próxima de H. P. Blavatsky, a Condessa de Adhemer, foi designada a Helena de Tau Valentin. François-Charles Barlet e Jules Lejay, ambos membros do Supremo Conselho da Ordem Martinista, também foram consagrados. No final de 1890, Doinel ingressou na Ordem Martinista de Papus e, segundo T.Apiryon, Doinel também se tornou membro de seu Supremo Conselho[14]Doinel não aparece na lista de membros do Supremo Conselho da Ordem Martinista de 1891, então se especula que ele participou do Supremo Conselho entre 1893 e 1895, ano de seu rompimento com este … Continue reading. Doinel também era membro de um pequeno círculo oculto, “L’Institut d’études Cabalistiques”. Outros membros desse círculo cabalístico foram Firmin Boissin, Louis Lechartier e “Leo Taxil”.

Sedir

A Igreja consistia em três níveis de afiliação: o alto clero, o baixo clero e os fiéis. O alto clero era composto por pares homem/mulher de Bispos e Sophias, responsáveis pela administração da Igreja. Eles foram eleitos por suas congregações e mais tarde confirmaram seu cargo por uma consagração formal dada pelo Patriarca. O baixo clero consistia em pares de diáconos e diaconisas, agindo sob a direção dos Bispos e Sophias, e eram responsáveis pela condução das atividades diárias da Igreja. Os fiéis, ou simples membros da Igreja, como os Parfaits (homens) e Parfaites (mulheres), designações que são traduzidas como “Perfeitos” e “Perfeitas”, derivadas do Catarismo.

Em abril de 1890, Doinel publicou “La Gnose de Valentin”, no qual elogiou e agradeceu a Papus pela atenção dada à Igreja Gnóstica na revista mensal “l’Initiation”. Os decretos do “Santo Sínodo Gnóstico” apareceram na revista “L’Initiation”, de setembro de 1893. Outros textos publicados por Doinel para uso na congregação gnóstica: “Premiere Homélie” (sobre “A Sagrada Gnose”), setembro de 1890, “Restauração da Gnose”, “Fraccíon du Pain”, de setembro de 1893 (Missa Gnóstica, “A Partição do Pão”), maio de 1894, e o sacramento cátaro “l ‘Appareilamentum”, junho de 1894.

Chamuel

Uma declaração interessante é feita por Frater Navitae[15]Em um artigo intitulado “Apostolic Succession of Relevence to the E.G.C. and O.T.O.”.: Doinel havia fundado sua Igreja Gnóstica Universal na esperança de reviver os ensinamentos de Orígenes, nome de grande importância para a fundação da Igreja Católica Romana e ele mesmo um ex-gnóstico. Orígenes foi um dos fundadores da Igreja Católica e um ex-gnóstico. Sabe-se que o Abade Júlio baseou suas doutrinas, através de Jean Sempé, em Orígenes. E, como veremos mais adiante, o sucessor de Doinel, Synésius, foi um discípulo de Abbé Julio.

Na próxima parte falaremos sobre a fraude de Taxil e a continuidade da Igreja Gnóstica através de Fabre Des Essarts.

Referências

Referências
1 Sem sucessão apostólica, mas espiritualmente de fato.
2 Membro do Grande Oriente da França.
3 Envolvidos com a “Compagnie des Jeux Floraux”.
4 A Doutrina Secreta de Blavatsky, O Livro da Lei de Crowley, etc.
5 Muito se deve a textos de alguns ocultistas que criticavam os fenômenos mediúnicos em contrapartida aos fenômenos que vivenciavam, como se os seus fossem superiores aos outros. Na realidade, por exemplo, mesmo os contatos de Blavatsky com os Mestres eram um contato mediúnico, mas se tentava explicar que este tipo de fenômeno não o era. Atualmente há uma negligência em relação a este tipo de situação, pois se considera apenas os textos críticos e desconsidera-se a própria história dos movimentos iniciáticos e os fenômenos que aconteciam com os seus principais líderes, que revelaria que muitas das vezes onde mais se criticava mediunidade mais ela caminhava ladeada com a iniciação.
6 Dentre ele podemos citar o Abade Roca, associado ao círculo de ocultistas de Stanislas de Guaita.
7 Embora tais denominações sejam originais do Catarismo, elas não assumem aqui o sentido de extremo ascetismo que possuíam e referem-se unicamente aos membros da congregação, sendo também muitas vezes associadas por Doinel com os conceitos deixados por Valentinus sobre as duas divisões superiores da raça humana – os Pneumáticos e os Psíquicos, únicos passíveis de serem “Perfeitos ou Perfeitas” (excluindo, consequentemente, os hilíacos da mesma classificação valentiniana). Somente indivíduos considerados com alta inteligência, refinamento e mente aberta eram admitidos na Igreja Gnóstica de Doinel.
8 O que demonstra que a consagração de Sophias (ou Episcopisas) acontecia desde o princípio do ressurgimento gnóstico.
9 O que faz 1890 o ano I da Era da Gnose Restaurada. Documentos de diversas Igrejas Gnósticas trazem um calendário que apontam em qual ano de tal Era estamos.
10 Consolamentum e Appareillamentum.
11 Papus, Sedir e Chaumel eram líderes e dignitários de diversas ordens esotéricas.
12 Primeira “Bispa”, ou mais corretamente, Episcopisa, que Doinel ordenou.
13 Papus, Sedir e Chamuel.
14 Doinel não aparece na lista de membros do Supremo Conselho da Ordem Martinista de 1891, então se especula que ele participou do Supremo Conselho entre 1893 e 1895, ano de seu rompimento com este movimento e, inclusive, com a sua Igreja.
15 Em um artigo intitulado “Apostolic Succession of Relevence to the E.G.C. and O.T.O.”.

Comentários

Uma resposta para “História dos Desenvolvimentos Gnósticos Modernos – Parte 3”

  1. LAZARO OMENA

    É fascinante constatar como a gnose, que alguns já chegaram a denominar, com certo desdém , “religião oculta da história”, contou com uma intervenção direta da hierarquia espiritual para se reconstituir e superar todas as tentativas de apagamento de seu legado. Paralelamente a isto, as descobertas dos escritos apócrifos vem fazer ressoar novamente seus ideais, sem nenhum filtro de ortodoxia heresiológoca. Que os elos que sustentam esta cadeia iniciática dúplice da Igreja Gnóstica possam se fortalecer cada vez mais!

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