A primeira tentativa conhecida de se associar os Arcanos Maiores do Tarô às letras do alfabeto hebraico partiu, ao que se sabe, de Eliphas Levi (Alfonse Louis Constant), em seu Dogma e Ritual de Alta Magia, impulsionado pela obra de Antonie Court de Gébelin, Le Monde Primitif.
Nesse sistema, que veio a criar toda uma escola de pensamento, ao se considerar O Mago como o primeiro dos Arcanos Maiores, atribui-se, a ele, a letra Aleph. O Arcano 0, O Louco, colocado entre os Arcanos XX (O Julgamento)
e XXI (O Mundo), recebeu a letra Shin como atribuição.
Posteriormente, o mago inglês Samuel McGregor (Liddell) Mathers, fundador da Ordem Hermética da Aurora Dourada (The Hermetic Order of the Golden Dawn), reivindicou a posse da real e secreta atribuição das cartas do Tarô ao alfabeto hebraico, afirmando que Eliphas Levi teria divulgado um sistema incorreto propositadamente, vez que estaria preso a juramento de sigilo. Noutras palavras, de acordo com Waite, a verdadeira atribuição seria um segredo Rosacruz cuja divulgação fora vedada a Eliphas Levi, mas permitida pela adepta alemã Anna Sprengel no seio da Aurora Dourada.
Segundo o sistema preconizado por Mathers, a primeira carta dos Arcanos Maiores seria o Arcano 0, O Louco, à qual, portanto, deveria ser atribuída a letra Aleph. Isso bastou para que se criasse uma outra escola de pensamento, que partia de premissas diferentes da escola dita francesa e, consequentemente, conduzia a conclusões igualmente diferentes.
Mas afinal, qual dessas escolas está certa?
Nenhuma delas ou ambas! Afinal, em matéria de simbolismo, posições rígidas e autoritárias, essas sim, costumam mostrar-se incorretas.
Herdeira que é do renascimento ocultista francês do século XIX, iniciado por Eliphas Levi e expandido por Papus (Gerard Encausse), a Ordem Martinista preserva a escola francesa de correlação do Tarô à Cabala. Seus membros, contudo, são convidados a estudar ambas as duas correntes, a refletir nelas, a absorver os preciosos ensinamentos dos autores que se fizerem seus expoentes e a tentar chegar a uma síntese pessoal. Ou não! Afinal, é perfeitamente possível conhecer ambas as escolas, só não sendo recomendável misturá-las em trabalhos práticos de magia (nesse caso, o melhor é optar por uma delas, ainda que temporariamente e unicamente para os fins do trabalho prático que se pretenda realizar).
O estudante maduro de esoterismo, não afeito a sectarismos de qualquer natureza, muito lucrará, assim, estudando as obras clássicas de Eliphas Levi, Papus, Oswald Wirth e aquela que, na nossa opinião, é a obra-prima da escola esotérica francesa: Os Arcanos Maiores do Tarô, de G. O. Mebes1. Ele também tirará enorme proveito do estudo dos escritos de Samuel Mathers, Aleister Crowley2, Dion Fortune, Gareth Knight, Robert Wang e daquele que veio a se mostrar o maior expoente da escola inglesa: Paul Foster Case.
Por fim, para facilitar os estudos daqueles que pretendem se debruçar sobre as obras dos autores aqui mencionados, segue-se uma tabela comparativa dos dois sistemas:
Notas
(1) Esse livro só foi editado em russo e em português, de sorte que a maioria dos estudiosos de esoterismo desconhecem-no. Contudo, uma vez que Mouni Sadhu plagiou-o ipsis literis com o título O Tarô, muitos citam essa obra, desconhecendo a sua verdadeira autoria.
(2) Por que não? Estudar uma obra não implica em concordar com as ideias do autor e muito menos em praticar o sistema por ele preconizado. Quer queiram, quer não, O Livro de Thoth é uma obra importantíssima da escola inglesa.
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